Política

Embate com  o Supremo
Notícia

Bolsonaro desafia STF após decisão que manteve cassação de seu aliado

Presidente disse estar "indignado" com resultado de julgamento da Segunda Turma da Corte

Estadão Conteúdo

Eduardo Gayer

Visivelmente irritado, o presidente Jair Bolsonaro desafiou nesta terça-feira (7) o Supremo Tribunal Federal (STF) e sugeriu que não cumprirá mais decisões da Corte. Bolsonaro fez a afirmação após a Segunda Turma do STF derrubar, por três votos a dois, liminar concedida pelo ministro Kassio Nunes Marques, mantendo a cassação do deputado estadual Fernando Francischini (União Brasil-PR) por disseminar fake news contra as urnas eletrônicas e o processo eleitoral. Francischini é aliado de Bolsonaro.

— Não existe tipificação penal para fake news. Se tiver, que se feche a imprensa — afirmou o presidente, em mais um ataque aos veículos de comunicação. 

Bolsonaro disse estar "indignado" com a decisão da Segunda Turma do Supremo.

— Enquanto a gente está em evento voltado para a fraternidade, aqui do outro lado da Praça dos Três Poderes uma turma do STF, por três a dois, mantém a cassação de um deputado acusado em 2018 de espalhar fake news. Esse deputado não espalhou fake news porque o que ele falou na live (transmissão ao vivo pelas redes sociais) eu também falei para todo mundo: que estava tendo fraudes nas eleições de 2018. Quando se apertava o número 1, já aparecia o 13 (do PT) na tela e concluía a votação — insistiu.

Bolsonaro aproveitou a cerimônia intitulada Brasil pela Vida e pela Família, no Palácio do Planalto, para subir ainda mais o tom dos ataques aos ministros do STF Alexandre de Moraes, que vai comandar o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a partir de meados de agosto; Edson Fachin, atual presidente do TSE, e Luís Roberto Barroso.

— Pode alguém ser punido por fake news? E se não for fake news, for uma verdade? Pior ainda (...). Eu não vou viver com um rato. Tem que haver uma reação — disse ele.

O presidente afirmou ser do tempo em que decisão da Justiça não era discutida, mas, sim, cumprida.

— Eu fui desse tempo. Não sou mais. Certas medidas saltam aos olhos dos leigos. É inacreditável o que fazem. Querem prejudicar a mim e prejudicam o Brasil — protestou Bolsonaro.

A declaração do presidente ocorreu após novas críticas feitas por ele diante da possibilidade de ser aprovado um novo marco temporal no país, com potencial de ampliar a demarcação de terras indígenas.

— O que eu faço se aprovar? Entrego a chave para os ministros do Supremo ou digo: "Não vou cumprir" — declarou. 

O descumprimento de decisões do STF pode levar à acusação de crime de responsabilidade passível de impeachment.

Reunião com embaixadores

Em mais um ataque aos magistrados, Bolsonaro disse que Fachin comete "um estupro contra a democracia brasileira" com suas decisões judiciais. Ao fazer a afirmação, ele se referia a uma reunião entre Fachin e embaixadores na qual o ministro teria dito aos representantes diplomáticos que seus países precisavam reconhecer o vencedor das eleições brasileiras após o TSE anunciar o resultado da disputa.

— De forma indireta, ataca a Presidência da República, como um homem que não respeita a Constituição, que não respeita o processo eleitoral, que pensa em dar um golpe. O que é isso se não um arbítrio, um estupro à democracia brasileira? — afirmou Bolsonaro. — Para mim, é muito mais fácil estar do outro lado. Tenho a família toda perseguida, até minha esposa, canalhas. Vêm para cima de mim se são homens.

Bolsonaro ainda reiterou ataques a outros ministros do STF, como Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes.

— O que eles querem, uma ruptura? Por que atacam a democracia o tempo todo? — questionou. — Qual a isenção dele para conduzir as eleições ?

Ele voltou a levantar dúvidas, sem provas, sobre a lisura do sistema eleitoral brasileiro.

— Ganhe quem ganhar as eleições, eu entrego a faixa, mas em eleições limpas e auditáveis. Confio nas máquinas, não confio quem está atrás das máquinas — afirmou, repetindo que, "aparentemente, ganha a eleição quem tem amigos" no TSE.

Bolsonaro destacou que quem convidou as Forças Armadas para participar do processo eleitoral foi o próprio Judiciário.

— Eu sou o chefe das Forças Armadas e não vamos fazer papel de idiota — observou. 

Bolsonaro concluiu dizendo que "se deu mal" por chegar à Presidência.

GZH faz parte do The Trust Project
Saiba Mais
RBS BRAND STUDIO

Madrugada Gaúcha

03:00 - 05:00