A evolução do calendário eleitoral e a formação das primeiras alianças para a disputa das eleições de 2022 provocaram alterações no jogo de forças que sustenta o governo estadual. Além das substituições no secretariado, motivadas pela lei eleitoral, partidos que integraram a base da gestão Eduardo Leite-Ranolfo Vieira Júnior decidiram desembarcar do governo, enquanto outros ainda discutem a possibilidade da saída.
São legendas que, embora tenham ocupado espaços e votado a favor dos projetos enviados à Assembleia, não pretendem apoiar a candidatura de situação ao Palácio Piratini, que deverá ser liderada pelo próprio Ranolfo (PSDB) ou pelo deputado Gabriel Souza (MDB).
Em contrapartida, os prováveis aliados de outubro ampliaram a participação na nova administração.
Nesta terça-feira (5), a bancada do PP se reuniu com o presidente do partido, Celso Bernardi, e decidiu solicitar uma agenda com Ranolfo na próxima semana para colocar à disposição os cargos que ocupa no governo. A sigla colocou na rua ainda no ano passado a pré-candidatura do senador Luis Carlos Heinze a governador e já vem desembarcando aos poucos: nos últimos dias, a deputada Silvana Covatti deixou a Secretaria da Agricultura e o ex-prefeito de Santiago Júlio Ruivo saiu do comando do IPE-Saúde.
— Vamos ao governador para dizer que estamos com a candidatura própria e estamos deixando os cargos à disposição para que ele possa fazer o remanejamento. Depois vamos cuidar da campanha — disse Bernardi.
Acompanhando o movimento partidário, o deputado Frederico Antunes (PP) prepara a despedida do cargo de líder do governo na Assembleia. O favorito para ocupar o posto é Mateus Wesp (PSDB).
Quem já está fora do governo é o PSB, que anunciou a saída em março. A sigla fechou apoio à candidatura presidencial do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e lançou o ex-deputado Beto Albuquerque como pré-candidato a governador, almejando o apoio do PT. A secretaria ocupada por José Stédile passou para um antigo correligionário, o ex-prefeito de Nova Prata Volnei Minozzo, que migrou recentemente para o União Brasil.
Partido do presidente Jair Bolsonaro e que terá Onyx Lorenzoni como candidato a governador, o PL ainda não decidiu se fica no governo ou se baterá em retirada. O partido ocupava a Secretaria de Justiça, com Mauro Hauschild, que solicitou a desfiliação há alguns dias, e mantém cargos em outros escalões.
Filho de Onyx, o deputado Rodrigo Lorenzoni, que foi secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo entre 2020 e 2021, disse que a legenda vai iniciar um debate interno para tirar posição em relação ao governo.
— Está muito claro que teremos projetos distintos. Penso que deveríamos rumar para uma posição de independência — diz o parlamentar.
De outro lado, o deputado Eric Lins sustenta que o PL deve permanecer no governo, mantendo as indicações políticas, a despeito de enfrentar o candidato da situação nas urnas.
—Vou continuar sendo parceiro nas coisas boas e crítico naquilo que discordo — justifica.
Vice-presidente estadual do partido, o deputado federal Giovani Cherini reforça que, até o momento, “nada mudou”:
— Estamos aguardando o novo governador. Sou a favor da governabilidade.
Perdas e ganhos
Além de ganhar a Secretaria de Obras, o União Brasil manteve o comando da pasta de Desenvolvimento Urbano e Metropolitano. Na Igualdade e Cidadania, substituindo a recém-filiada Regina Becker, assumiu a diretora-geral da pasta, Marcia de La Torre.
Também cresceu a representação do Podemos, que indicou o vereador Hamilton Sossmeier (PTB, que migrará ao Podemos) para a pasta do Trabalho. No Turismo, Raphael Ayub substitui o correligionário Ronaldo Santini. Os dois partidos são comandados por egressos do PTB, antiga casa de Ranolfo, e devem compor a coligação que sustentará a candidatura governista.
Em contrapartida, o Republicanos, que confirmou apoio à candidatura de Onyx, perdeu vaga no primeiro escalão — o partido comandava a pasta do Trabalho, com Ronaldo Nogueira. Já o PTB, que fechou com Heinze, também ficou sem secretários.
Os dois partidos, no entanto, mantêm o discurso de que pretendem continuar na base governo, visto que formaram a composição que elegeu Leite e Ranolfo em 2018.
Presidente do Republicanos, o deputado Carlos Gomes disse que está aguardando uma posição de Ranolfo a respeito da participação no governo, e afirma que os deputados devem permanecer na base.
— Não podemos destruir o que ajudamos construir desde a pedra fundamental — argumenta Gomes.