O escritor Olavo de Carvalho, considerado o "guru" do bolsonarismo, em depoimento prestado no bojo do inquérito das milícias digitais, foi marcado por questionamento dos investigadores sobre o processo de agendamento de sua oitiva. O ideólogo foi ouvido por videoconferência por estar nos Estados Unidos. Ele retornou ao país em novembro, após passar três meses internado em São Paulo.
O ideólogo negou ter saído do Brasil para evitar prestar depoimento presencialmente, dizendo que só soube da intimação da PF durante o trajeto de São Paulo para Assunção, no Paraguai. Olavo disse que viajou até o país após receber um convite de um "aluno" chamado Pedro, amigo de seu filho Luiz Conzaga de Carvalho Neto, para que conhecesse seus alunos paraguaios, bem como a cidade de Assunção.
Olavo sustentou que Pedro enviou um carro para São Paulo com dois motoristas paraguaios para pegar ele e sua esposa. O ideólogo disse ainda que não conseguiu se encontrar com seu filho e, em razão de a viagem ter sido 'mais cansativa do que imaginava', quis voltar logo para os Estados Unidos.
Em um primeiro momento, Olavo disse que as passagens de Assunção para Miami foram pagas por ele, compradas diretamente no aeroporto, e em dinheiro. No entanto, a versão acabou sendo questionada pela PF, que conseguiu documentos que mostram que a compra das passagens aéreas foi realizado pela esposa, em São Paulo, em uma agência de turismo. Olavo disse que se confundiu.
O ideólogo ainda foi confrontado pelos investigadores sobre sua alta da clínica onde estava internado. Olavo chegou a dizer que não obteve alta, mas seus médicos teriam dito que ele estava em condições de viajar e assim "teria aproveitado a oportunidade". A corporação contestou a informação, no entanto, indicando que, segundo a clínica a alta se deu por "evasão do paciente". O escritor negou ter fugido do local, reforçando que "aproveitou o convite para viajar para Assunção e rever seu filho".
Relação com a família Bolsonaro
O ideólogo negou à Polícia Federal manter relação com o presidente Jair Bolsonaro e seus filhos Eduardo e Carlos, respectivamente deputado federal e vereador. Olavo disse que somente conversou com o chefe do Executivo em quatro ocasiões - três delas por telefone, com duração de cerca de dois minutos a ligação, "por motivo de data festiva ou congratulações", e uma presencialmente na Embaixada do Brasil nos Estados Unidos.
Com relação aos filhos de Bolsonaro, Olavo disse não se lembrar se chegou a conhecer pessoalmente Carlos e citou Eduardo apenas como um dos alunos de curso de cinco dias ministrado em 2019 nos Estados Unidos. Essa última indicação também foi feita quanto ao blogueiro bolsonarista Allan dos Santos. Segundo Olavo, ele não tinha os contatos do aliado do presidente antes de 2020.
Questionado sobre seu posicionamento político, Olavo afirmou à PF que "nunca atuou, em eleição, no interesse de algum candidato", tendo mostrado apenas a "simpatia" a Bolsonaro no pleito de 2018. Ele negou possuir qualquer influência sobre o governo federal, lembrando que no início do mandato de Bolsonaro, foi convidado a ocupar o cargo de ministro da cultura ou da educação.
O ideólogo negou o convite, reconhecendo ter sugerido o nome de Ernesto Araújo para ser ministro das Relações Exteriores e de Ricardo Velez para o Ministério da Educação. No depoimento, ainda foi questionado sobre sua ligação com outros aliados de primeira hora de Bolsonaro, como as deputadas Carla Zambelli e Bia Kicis.
A Polícia Federal também quis saber da relação de Olavo de Carvalho com Steve Bannon, ex-estrategista do governo Trump. O ideólogo alegou que em 2019, Bannon teria aparecido em sua casa "de informa inesperada, informando que queria conhecê-lo". Em outra ocasião, foi convidado por Bannon a participar de um jantar em sua casa, para "tratar de temas diversos", sustentou ainda o escritor. Além disso, Olavo disse que, em uma terceira ocasião, encontrou Bannon durante o evento de lançamento de um filme no hotel do ex-presidente Donald Trump.