Uma confusão envolvendo o prefeito de Cerro Grande do Sul, Gilmar Alba (PSL), acabou em uma delegacia de polícia neste domingo (14). Alba brigou com um casal de moradores na Vila Flores, na periferia do município do sul do Estado, e depois algemou a mulher. Parte do entrevero foi registrado em vídeo e circula em redes sociais.
A mulher, cuja identidade não foi divulgada pela Polícia Civil, registrou queixa por lesão corporal contra o prefeito na delegacia de Camaquã, município vizinho, a 46 quilômetros de distância. Alba não quis comparecer à delegacia. Ele disse que estava tonto por receber golpes com uma tábua na cabeça e reclamou que o agressor fugiu.
O entrevero teria começado por usa da retirada de areia de uma propriedade de Alba. Conforme a mulher relatou à polícia, todos os dias caminhões particulares pertencentes ao prefeito transitam pela região, transportando areia. O movimento estaria disseminando nuvens de poeira no local.
Alegando ter filhos pequenos enfrentando problemas respiratórios, a mulher pediu a um motorista que trafegasse por outra rua. Ele teria concordado, mas, antes, disse que precisava pedir autorização a Alba. Após ouvir o relato do funcionário, o prefeito decidiu comparecer ao local.
O prefeito, porém, diz que os caminhões não são dele e que nada tem a ver com a retirada de areia. Conforme afirmou a GZH, ele foi chamado ao local porque os moradores estavam ameaçando trancar a via. Alba chegou armado e munido de algemas.
— Me ligaram dizendo que uns moradores disseram que caminhão nenhum passava mais porque, se o prefeito tem arma, eles também tinham. Me avisaram e eu fui tomar uma providência e ver o que estava acontecendo — disse o prefeito.
Alba disse que, tão logo chegou, um homem ameaçou ir em casa buscar uma arma. O prefeito afirmou ter reagido, dando voz de prisão ao morador, por desacato a autoridade. Na sequência, começou a briga. No vídeo que circula em redes sociais, o homem aparece pegando uma tábua no chão para agredir o prefeito, que reage. Eles descem a rua trocando socos, caem e rolam agarrados sobre um monte de areia.
— Eu, como autoridade, não quis bater nem atirar. Não sou desse tipo. Eu dei voz de prisão e mandei segurar que eu ia buscar as algemas. A mulher dele se agarrou em mim e começou a me bater, me chamar de tudo que foi nome, rasgou minha camisa, depois bateram na minha caminhonete, quebraram o vidro. Aí eu peguei o braço dela e passei as algemas — relatou Alba.
Em outro vídeo, a mulher aparece já algemada, sendo segurada pelo prefeito. A Brigada Militar foi chamada e uma guarnição teve de se deslocar de Tapes até o município. A pedido dos policiais, o prefeito soltou a mulher. Ela foi levada pelos agentes à delegacia de Camaquã, onde registrou ocorrência. Na sequência, seria submetida a exame de corpo de delito.
— O agressor tinha ido embora, ficou eu e a mulher. Um dos policiais disse que tínhamos de ser conduzidos a Camaquã. Mas, se o agressor não for junto, como eu, que dei voz de prisão a ele, vou ter de ir? Então eu saí porque comecei a tontear — argumentou Alba.
Notícia nacional
Apelidado de “Gringo Louco” e acostumado a andar armado pela cidade, Alba virou notícia nacional em agosto, após ser flagrado pela Polícia Federal transportando R$ 505 mil em dinheiro vivo. Ele foi abordado no aeroporto de Congonhas (SP), enquanto tentava embarcar com a quantia para Brasília.
O dinheiro foi encontrado durante inspeção pelo raio X e acabou apreendido pela PF. Durante a CPI da Covid, senadores afirmaram suspeitar que Alba usaria os recursos para financiar as manifestações de apoio ao governo realizadas em 7 de setembro.
Na véspera do atos, Alba foi alvo de mandado de busca e apreensão em seus imóveis e na prefeitura de Cerro Grande do Sul. Ele foi investigado no inquérito conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, que investiga atentados às instituições e ao Estado Democrático de Direito nas manifestações do Dia da Independência.
Na eleição de 2020, Alba declarou à Justiça Eleitoral possuir patrimônio avaliado em R$ 8,6 milhões. Entre os bens relacionados constam 19 frações de terra e terrenos, dois caminhões, um trator e R$ 3 milhões em espécie.