Flagrado pela Polícia Federal transportando R$ 505 mil no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, o prefeito de Cerro Grande do Sul, Gilmar João Alba (PSL), concedeu entrevista à Rádio Gaúcha na manhã desta sexta-feira (3). O fato ocorreu na última quinta-feira (26) e, desde então, GZH tentava contato com o chefe do Executivo municipal - a reportagem chegou a se deslocar ao município de 12 mil habitantes, mas não foi atendida por ele.
Na entrevista, Alba afirmou que circular com dinheiro vivo lhe garante oportunidade de negócios. Segundo ele, é por isso que levava a quantia na viagem - ele disse que tinha ido a São Paulo, mas que já tinha passagem de volta para Porto Alegre. O prefeito foi questionado sobre a confiança que tem no sistema bancário, já que carregava dinheiro com ele.
— Se você insistir muito, vou parar de falar com você. Eu não confio no sistema bancário? Não fala assim, porque eu peguei o resto do dinheiro que eu tinha, fiz alguns investimentos e o resto está no banco, eu botei na poupança. Como não confio no sistema bancário? Agora, também ninguém vai me proibir de eu estar com dinheiro vivo para ter a oportuniadade de comprar gado nos leilões, terra mais barata, por ter dinheiro vivo. A pessoa com dinheiro vivo é outro mundo, todo mundo sabe disso.
Em mais de uma oportunidade, Alba disse que não deve explicações sobre o que faria com o dinheiro e chegou a afirmar que "eu ando com o meu dinheiro para onde eu quiser". Ele garantiu, no entanto, que trabalha honestamente e que, a partir de agora, vai evitar levar dinheiro consigo:
— Agora, tem o risco, claro que tem. Só que agora eu jamais vou sair com dinheiro, porque com esse "parapapá" todo, os meninos do mal estão "tudo louco" para pensar que eu vou estar com dinheiro em casa. Manda me pegar para ver se eu vou ter dinheiro em casa hoje. Pode vir Polícia Federal, Receita Federal, todo mundo. Agora me fizeram deixar de ser um oportunista e comprar bons negócios e ganhar meu dinheiro como sempre ganhei trabalhando, e oportunidade de negócios bons.
Conforme o prefeito, sua declaração de renda é de R$ 9,039 milhões, com R$ 4,3 milhões de dinheiro declarado. Ele chegou a dizer que R$ 505 mil não são suficientes para comprar um bom carro:
— R$ 500 mil não é uma Mega-Sena. Não dá para comprar um carro bom, dá para comprar um carro meio porte.
Atos de 7 de setembro
Na quarta-feira (1º), a apreensão de R$ 505 mil com o prefeito Gilmar João Alba foi citada por senadores na CPI da Covid. O senador Humberto Costa (PT-PE) pediu que o caso fosse investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), afirmando que "todos os indícios são de que esse recurso viria para financiar esse ato contra a democracia do dia 7 de setembro".
Na entrevista, no entanto, o gestor municipal negou que isso seja verdade:
— Eu jamais faria um vandalismo desses, pegar dinheiro para patrocinar... Eu acho que ninguém precisa, nem Bolsonaro nem o povo brasileiro precisa ser patrocinado. Porque nós, bolsonaristas, usamos nosso dinheiro e fazemos uso para comprar nossas roupas. Não pedimos dinheiro para ninguém. Jamais eu iria na manifestação. Não vou, nunca fui. Estou há mais de um ano sem ir para Brasília e esse dinheiro não era para isso, não.
Alba ainda afirmou que todo o dinheiro recebido em sua vida é fruto de trabalho:
— (Com) Ensino Médio incompleto, estou disposto a dar curso para ganhar dinheiro.