O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse nesta sexta-feira (8) que não há qualquer conflito de interesse na existência de recursos em seu nome numa offshore nas Ilhas Virgens (um paraíso fiscal), uma vez que ele saiu da gestão da empresa e os recursos foram declarados às autoridades competentes, como requer a lei. Foi a primeira vez que o ministro se manifestou publicamente sobre o caso desde a divulgação do Pandora Papers pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ), noticiados no Brasil pela revista Piauí e pelos portais Poder360 e Metrópoles.
Guedes participou nesta sexta-feira de um evento virtual promovido pelo Itaú por ocasião das reuniões de primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI). Como era voltado a investidores internacionais, o ministro da Economia falou em inglês.
Ele mesmo puxou o tema da offshore, após dizer que o anfitrião não havia mencionado o assunto "por elegância". Até então, ele havia se manifestado apenas por meio da assessoria de imprensa do ministério e por meio de advogados.
— As offshores são legais, foram declaradas, não houve movimentação para trazer dinheiro do Exterior, nem envio de dinheiro para o Exterior desde que eu enviei o dinheiro, em 2014 ou 2015 — disse Guedes.
O ministro, que antes de assumir o cargo tinha participações em investimentos nas áreas de educação e saúde, disse ainda que vendeu tudo pelo valor de investimento antes mesmo de poder colher os resultados, justamente para evitar qualquer conflito de interesse.
— Perdi muito dinheiro vindo aqui (governo), exatamente para evitar problemas. Tudo que estava nas minhas mãos eu vendi a preço de investimento. Perdi muito mais do que o valor dessa companhia que está declarada no Exterior. Ninguém fez nada de errado. Qualquer dinheiro que esteja lá tem gestores independentes, em jurisdições que não têm influência de minhas ações — afirmou Guedes.
Pelos dados divulgados pelo ICIJ, Guedes possui desde 2014 uma offshore chamada Dreadnoughts International e depositou US$ 9,54 milhões na conta da empresa. Segundo a Piauí, o ministro se manteve no controle direto da empresa mesmo depois de ingressar no governo — Guedes e sua defesa, por sua vez, afirmam que ele saiu da gestão antes de assumir o ministério.
O episódio levou o plenário da Câmara dos Deputados a aprovar, por 310 votos a 142, a convocação de Guedes para prestar esclarecimentos. Por ser convocação, o ministro terá de comparecer à audiência, que ainda terá a data definida. A ausência sem justificativa seria crime de responsabilidade. A aprovação do requerimento se deu com apoio até mesmo de deputados governistas, numa Casa comandada por Arthur Lira (PP-AL), um dos principais aliados do presidente Jair Bolsonaro.
— Não há qualquer conflito de interesse. Tudo é claro, legal e declarado — insistiu Guedes.
— O resto é só barulho, e ficará pior à medida que nos aproximamos da eleição — afirmou o ministro, classificando as reações de "ataques pessoais".
Guedes contou ainda que possui um blind trust, tipo de fundo em que os ativos são administrados sem conhecimento do beneficiário — que, neste caso, por ser ministro, tem acesso a dados sensíveis e poder de decisão sobre os rumos da economia.
— Eu tenho um blind trust, não quero mencionar o banco, mas provavelmente você sabe muito bem o nome do banco, para investimentos neste país. Um blind trust para investimentos dentro do país — afirmou Guedes durante o evento do Itaú.