O prefeito de Cerro Grande do Sul (RS), Gilmar João Alba (PSL), conhecido como Gringo Loco, é alvo de uma ação da Polícia Federal (PF) na tarde desta segunda-feira (6). A mando do Supremo Tribunal Federal (STF), policiais cumprem mandados de busca e apreensão em imóveis do mandatário municipal e também na prefeitura daquele município, situado no centro-sul do Estado, a 122 quilômetros de Porto Alegre.
O motivo é buscar explicações para o fato de o prefeito ter sido surpreendido carregando mala com R$ 505 mil, no Aeroporto de Congonhas (São Paulo), em 26 de agosto. Gilmar Alba não explicou o motivo de levar tantas cédulas em espécie, mas disse à Rádio Gaúcha que costuma fazer isso, em busca de oportunidades de bons negócios, que exigem dinheiro vivo.
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia, do Senado Federal, levantou a suspeita de que o dinheiro fosse oriundo de uma “vaquinha” entre apoiadores do presidente Jair Bolsonaro para as manifestações do Sete de Setembro. Gilmar Alba, além de ser filiado ao partido pelo qual o presidente se elegeu em 2018, se diz “bolsonarista declarado e juramentado”.
Os senadores Humberto Costa (PT-PE) e Omar Aziz (PSD-AM) pediram investigações a respeito, dizendo ter recebido ‘sérios indícios’ de que o dinheiro de Alba se destinava a manifestações contra o Supremo Tribunal Federal (STF). A informação foi levada ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, que investiga a existência de uma organização criminosa para financiar e disseminar atos antidemocráticos.
As determinações de Moraes se enquadram no mesmo inquérito que investiga " a ilícita incitação da população, por meio das redes sociais, a praticar atos criminosos, violentos e atentatórios ao Estado Democrático de Direito e às suas Instituições durante o feriado de 7/9/2021", conforme detalham as ordens de busca do STF.
É o mesmo inquérito que checa conclamações dos cantores Sérgio Reis e Eduardo Araújo a um cerco da população ao STF, em sete de setembro. As ordens determinam " apreensão de documentos físicos e eletrônicos indicativos de associação entre investigados, tais como agendas (inclusive de anos anteriores), documentos (incluindo procurações e alvarás), rascunhos ou demais documentos congêneres e de mídias e armazenamento (pendrive, HD externo, notebook, HD CPU), aparelhos de telefone (se smartphones), dentre outros, com arquivos importantes à investigação, em posse da seguinte pessoa, em endereços pessoais ou profissionais".
Na manhã desta segunda-feira (6), a Polícia Federal recebeu em Porto Alegre cópia dos mandados de busca e apreensão expedidos por Moraes, do STF. Eles são cumpridos nesta tarde. A reportagem não teve acesso aos mandados judiciais, mas sabe-se que são dois os motivos: verificar se procedem rumores de que o dinheiro se destinava a promover atos contra o STF e o Congresso. E também checar indícios de sonegação.
O prefeito Alba já foi alvo de operação contra sonegação fiscal, em 2017. Ele é um dos maiores produtores de fumo da região sul do Rio Grande do Sul e tem patrimônio declarado superior a R$ 9 milhões. Desses, R$ 4,3 milhões seriam em dinheiro, tanto em espécie como em aplicações.
O prefeito também terá de explicar porque se declarou analfabeto, para não assinar depoimento prestado à PF. Ou se, na verdade, tem segundo grau incompleto, conforme afirmou ao se candidatar ao cargo que ocupa - a alfabetização é exigida a quem quer concorrer ao Executivo.