Em fala inicial à CPI da Covid, o ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias afirmou que não teve participação na negociação do contrato de compra da vacina indiana Covaxin. O servidor da pasta Luis Ricardo Miranda, também em depoimento ao colegiado, citou seu nome como um dos responsáveis pela "pressão" para que o negócio fosse agilizado.
Ao rebater as acusações do servidor e de seu irmão, o deputado Luis Miranda (DEM-DF), Dias questionou as intenções de ambos. O ex-diretor afirmou que negou pedido de cargo para o irmão de Miranda e, por isso, imaginou estar sendo alvo de "retaliação".
Dias tentou colocar sob suspeita a movimentação do parlamentar no caso.
— Teria eu atrapalhado algum negócio do deputado? — levantou Dias, afirmando que Luis Miranda tem um "currículo controverso que é de conhecimento público".
Segundo o ex-funcionário da Saúde, Miranda manteria contato com Cristiano Carvalho, representante da Davati no Brasil, desde setembro. O policial Luiz Paulo Dominguetti se apresentou como representante da empresa ao oferecer 400 milhões de doses da Astrazeneca ao governo.
— Deputado mentiu e possuía contato com Cristiano desde setembro — disse, questionando ainda se teria ele "atrapalhado" algum "negócio" do parlamentar. — Estou sendo vítima de ataques contra minha honra por duas pessoas desqualificadas — afirmou.
Dias negou ainda que tenha pressionado o irmão de Luis Miranda para acelerar o contrato da Covaxin. Segundo ele, a mensagem enviada ao servidor tratava da vacina da AstraZeneca, e não do imunizante indiano.
Além de rebater o envolvimento na compra da vacina, Dias negou que a indicação sua para um cargo de confiança na pasta partiu do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (Progressistas-PR). Ele admitiu que tem relação com Barros em razão do cargo que ocupou no Paraná: Dias foi servidor do governo paranaense durante a gestão de Cida Borghetti (Progressistas), mulher de Barros.
Para ocupar posto-chave no Ministério da Saúde, o ex-diretor diz ter sido indicado pelo ex-deputado Abelardo Lupion (DEM-PR).
— Mandetta (ex-ministro da Saúde) recebeu meu currículo das mãos de Abelardo Lupion — disse, lembrando que conheceu Lupion quando trabalhou em empresa no Paraná. — A cada troca de ministros, eu fui mantido no cargo — afirmou ele ao comentar sobre por quais motivos continuou no cargo, atribuindo essa decisão as "ações que estavam em andamento".
— Pazuello me disse "estou subindo montanha e você é pessoa que conhece o caminho" —relatou Dias aos senadores.
Ele afirmou desconhecer que houve pedido de demissão sua por parte do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello. Já sobre a indicação pelo presidente Jair Bolsonaro a uma vaga na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no ano passado — retirada pouco tempo depois — Roberto Dias afirmou que o pedido para ingressar na Anvisa foi feito a Pazuello porque ele estaria "cansado da rotina no Ministério da Saúde".