O deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) afirmou na noite desta segunda-feira (12) que não gravou a conversa na qual teria alertado o presidente Jair Bolsonaro sobre suspeitas de irregularidades no contrato de compra da vacina indiana Covaxin. O parlamentar, no entanto, garantiu que, mesmo sem o áudio, tem "várias formas de provar" o encontro e as denúncias realizadas. As declarações foram dadas ao programa Roda Viva, da TV Cultura.
— Eu jamais gravaria um presidente da República, mas eu não estava sozinho na sala e nem todo mundo confia no presidente — afirmou;
Quando perguntado sobre quem estava na sala, o deputado disse que, além dele próprio, estavam seu irmão (Luis Ricardo Miranda, servidor do Ministério da Saúde) e o ajudante de ordens da Presidência Diniz Coelho. Apesar de ter deixado claro que não tem um áudio da conversa, o parlamentar afirma que, caso Bolsonaro desminta a denúncia, irá "clamar a quem ama para que não siga desta forma".
— O presidente tenta minimizar a denúncia. Apesar de ter recebido, ele diz que não existe nada, encaminhou ao Pazuello, que encaminhou ao Elcio (Franco) e que não existe prova. Apesar da quantidade de vidas perdidas tenta demonstrar que não existe nada. Em nenhum momento ele desmente, se isso ocorrer vou clamar a quem amo para que não siga desta forma. Eu não tenho o áudio, mas se ele optar por desmentir, o Brasil ficaria decepcionado.
Luis Miranda também afirmou que o momento em que Bolsonaro admitiu ter recebido documentos por parte dele e de seu irmão foi " a primeira vez em que o presidente disse a verdade", e que por isso o assunto estaria encerrado.
Sobre o encontro que teria tido em 31 de março com lobista Silvio Assis — ocasião em que, conforme reportagem da revista Crusoé, Assis teria oferecido recompensas para que o parlamentar convencesse o irmão a parar de criar entraves na compra da Covaxin —, Miranda afirmou que "não foi bem assim".
— Fomos jantar com várias pessoas, não era nada específico. São encontros naturais da política. Na hora de eu sair, o proprietário da casa me acompanha até o carro e fala assim: "Deputado, nós temos a possibilidade de ganhar uma grana com a questão da vacina, eu tenho como lhe remunerar em seis centavos de dólar por cada unidade." Eu olhei pra ele e disse: "Cara, se você repetir isso eu vou te dar voz de prisão". Aí ele disse: "Não estou falando com o deputado, estou falando com o empreendedor, com o empresário." Ele deu uma desconversada, onde fica uma informação dúbia — afirmou.
Miranda disse, ainda, ter se tornado um "para-raios" de denúncias depois que decidiu expor as supostas irregularidades em contratos.
—Muitos sabem que tem muita coisa errada, agora é a hora de comprovar o "mensalão" na Saúde (...) — disse.
Sobre a relação de Bolsonaro com o Ministério da Saúde, Miranda fez afirmações contraditórias. Primeiro, disse que não vê o presidente ter a gerência da pasta, como tem sobre outros ministérios.
— Na Saúde, especificamente na Saúde, a gente não vê o presidente tendo a mesma gerência que ele tem sobre outros ministérios. Será que ele tem essa gerência toda sobre o Ministério da Saúde? — questionou.
Logo depois, afirmou:
— O presidente tem total gerência na Saúde. Ele que manda.