O Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) emitiu uma nota de repúdio nesta quarta-feira (2) criticando o tratamento dado às médicas Mayra Pinheiro e Nise Yamaguchi na Comissão Parlamentar de Inquérito que apura possíveis omissões do governo federal no combate à pandemia, chamada CPI da Covid. Segundo nota da entidade, a forma como as profissionais foram tratadas "ataca profundamente toda a categoria".
A médica cearense Mayra Pinheiro foi ouvida na terça-feira da semana passada (25) no Senado. Ela ganhou projeção nacional por defender o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina, ambas sem comprovação científica, no tratamento precoce da covid-19. Também responde a ação de improbidade administrativa apresentada pelo Ministério Público Federal no Amazonas, dentro de um processo que apura as missões dos governos federal e estadual no colapso do sistema de saúde na capital daquele Estado.
Ao falar, na CPI, de medicamentos que podem ser usados para combater a covid-19, Mayra foi rebatida por alguns senadores, entre eles o também médico Otto Alencar (PSD-BA), que afirmou que não "existe no mundo estudo sério" que comprove a eficácia da cloroquina.
Já a médica paranaense Nise Yamaguchi deu seu depoimento nesta terça-feira (1°). Ela também é uma defensora do chamado tratamento precoce contra a covid-19 e seu nome chegou a ser levantando para ocupar o Ministério da Saúde após a saída de Nelson Teich.
Na CPI da Covid, Nise deu relatos divergentes, como, por exemplo, quando negou ter havido uma proposta de decreto discutida em uma reunião no Palácio do Planalto para alterar a bula da cloroquina, de forma que o documento passasse a indicar o remédio no tratamento da doença. O testemunho dela contrariava relatos dados pelo ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta e pelo presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, à mesma comissão. Com a divergência nos testemunhos, o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), disse que quer fazer uma acareação, ou seja, um confronto entre a médica e o presidente da Anvisa.
Para o Simers, as participações das duas se deu em um ambiente de "hostilidade e absoluto demérito a posicionamentos contrários aos dos questionadores que se direcionaram às médicas, além de exposto preconceitos", diz parte da nota de repúdio. "Com o episódio, os senadores prestaram desserviço à sociedade e demonstraram péssimo exemplo à democracia, de forma contraditória, ignorando a pluralidade de opiniões e visões. Enquanto a condição primária do profissional e condição do saber é desconsiderada, não há razão, e, sim, ignóbil ação", prossegue o sindicato.
Confira na íntegra a nota do Simers:
O Sindicato Médico do Rio Grande do Sul manifesta indignação ao tratamento de senadores às médicas Mayra Pinheiro e Nise Yamaguchi, na CPI da Pandemia. A entidade repudia veementemente constrangimentos submetidos às respeitadas cidadãs, mulheres experientes, profissionais com qualificados currículos e respeito profissional.
O ambiente de hostilidade e absoluto demérito a posicionamentos contrários aos dos questionadores que se direcionaram às médicas, além de expostos preconceitos, denota profundo desrespeito ao ato médico. O fato ataca profundamente toda a categoria, independentemente da atuação de cada profissional.
Com o episódio, os senadores prestaram desserviço à sociedade e demonstraram péssimo exemplo à democracia, de forma contraditória, ignorando a pluralidade de opiniões e visões. Enquanto a condição primária do profissional e condição do saber é desconsiderada, não há razão, e, sim, ignóbil ação.
Prestamos nossa solidariedade às médicas e mantemos nossa defesa preponderante à autonomia e ao ato médico. Esperamos que a classe política garanta todas as condições para que os médicos exerçam sua missão de defender a vida e promover a saúde.