A CPI da Covid ouviu nesta terça-feira (15) o depoimento do ex-secretário da Saúde do Amazonas, Marcellus Campelo. O Estado enfrentou um colapso no sistema de saúde no início do ano, com falta de leitos e de oxigênio nos hospitais.
O governo do Amazonas é alvo de uma investigação que apura desvio de verbas destinadas ao combate à pandemia. Campelo pediu exoneração do cargo após ter sido preso em operação da Polícia Federal, no último dia 2, por suspeita de favorecimento a empresários no aluguel de um hospital de campanha no Amazonas.
O governador daquele Estado, Wilson Lima, falaria à CPI na semana passada, mas obteve aval do Supremo para não comparecer.
Abaixo, confira os principais pontos do depoimento:
Campelo afirma que problema de abastecimento de oxigênio foi até final de janeiro
No depoimento, Campelo afirmou que a crise no abastecimento de oxigênio do Amazonas durou até o final de janeiro deste ano. No entanto, ele continuou a dizer que a intermitência do insumo na rede de saúde pública no Estado durou apenas dois dias, afirmando que o ápice da crise foi entre 13 e 14 de janeiro, e que na época, o Ministério da Saúde já tinha a dimensão do problema e já atuava na logística para conter o colapso.
Com a defesa de que a crise teria durado apenas dois dias — afirmação que já havia desagradado senadores como Eliane Gama (Cidadania-MA) e Eduardo Braga (MDB-AM) —, o vice-presidente do colegiado, senador Randolfe Rodrigues, (Rede-AP), fez uma apresentação de vídeos registrados durante o "ápice" da crise no Estado.
Após assistir às imagens, datadas do dia 13 de fevereiro, Campelo afirmou que à época o Ministério da Saúde já estava no Estado e já atuava no transporte de oxigênio para conter os impactos da crise junto à empresa White Martins, apesar do quantitativo do insumo não ser suficiente para suprir a necessidade do Estado.
— A demanda era muito maior do que a logística que foi implantada — declarou.
Ex-secretário contradiz Pazuello e afirma que há desequilíbrio histórico em repasses
O ex-secretário afirmou ainda que enviou um ofício em 7 de janeiro ao então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, comunicando sobre o colapso no sistema de saúde de Manaus. A fala contradiz Pazuello, no entanto, que disse ter sido avisado depois, no dia 10.
Campelo também disse que existe historicamente um desequilíbrio nos repasses federais para o Amazonas.
Ofícios sobre oxigênio em Manaus ficaram sem resposta do governo federal, diz Campelo
O ex-secretário de Saúde disse ter ligado no dia 7 de janeiro ao então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, a fim de explicar a necessidade de apoio logístico para transportar oxigênio de Belém do Pará para Manaus, a pedido da empresa White Martins. Segundo ele, na conversa, Pazuello orientou que o Estado contatasse o Comando Militar da Amazônia para solicitar esse auxílio.
Apesar de ter falado com Pazuello no dia 7, e também no dia 10, presencialmente, o ex-secretário disse que, de seu conhecimento, não houve resposta por parte do Ministério da Saúde a uma série de ofícios enviados pelo governo local sobre o problema de desabastecimento.
— No dia 9 de janeiro, quando percebemos que haveria atraso na chegada da primeira balsa prometida pela White Martins, enviamos ofício e existia agenda do ministro Pazuello em Manaus a partir do dia 10. Então, no dia 10, foi relatada a situação dessa preocupação do apoio logístico — relatou.
— Não tenho conhecimento se houve resposta, acredito que não. Não houve resposta, que eu saiba (aos ofícios enviados ao então ministro da Saúde). A programação da White Martins estava para dia 9, como não houve confirmação, enviamos ofício ao Ministério da Saúde via comitê de crise nos dias 9, 11, 12 e 13 de janeiro — afirmou.
Em outro momento, Campelo disse que a White Martins chegou a pedir que o Estado paralisasse a ativação de leitos de UTI até que a empresa pudesse ampliar o fornecimento de oxigênio.
"Ênfase" ao tratamento precoce
Campelo relatou ainda que a secretária do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, deu "ênfase" ao tratamento precoce contra a covid-19, que não tem nenhuma comprovação científica, durante visita a Manaus. A secretária esteve na capital amazonense entre os dias 3 e 5 de janeiro e afirmou, durante seu depoimento à CPI, que a finalidade da viagem à cidade foi "fazer relatório de prospecção".