O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), participou nesta segunda-feira da primeira agenda após ser efetivado no cargo depois da morte de Bruno Covas (PSDB), e garantiu que não pretende fazer mudanças na equipe.
– A gestão é Bruno Covas. Não existe mudança ou alteração. Participei com o Bruno da formação desse governo. Não tem por que mudar – disse o emedebista, que assumiu a prefeitura menos de cinco meses após a posse como vice. — A eleição PSDB/MDB, liderada pelo Bruno, apresentou as nossas propostas para cidade e vou somente dar continuidade. Trabalhar muito, junto a nossa equipe, para honrar a memória do Bruno, nosso grande líder. Força, foco e fé — ressaltou Nunes, citando o slogan eleitoral que virou marca do tucano.
Assim como os auxiliares mais próximos, Nunes, que é ex-vereador, sabia que Covas (PSDB) havia entrado na fase de tratamento paliativo contra o câncer. Não se falava mais em cura, mas em sobrevida. O avanço rápido da doença nas últimas semanas, no entanto, pegou todos de surpresa e acelerou o processo de transição.
Respeitado na Câmara Municipal, onde cumpriu dois mandatos, mas classificado como "inexperiente" para a nova função, Nunes diz ter como "trunfo" o conhecimento, em detalhes, das contas municipais. Quando parlamentar, participou da elaboração de sete das oito leis orçamentárias aprovadas no período, além de CPIs com foco fiscal.
Considerado conservador e mais à direita no espectro político do que Covas, o novo prefeito pretende tem forte ligação com a Igreja Católica. A proximidade deve ajudar na construção de parcerias que pretende firmar com entidades religiosas para convencer usuários da cracolândia a aceitar tratamento e moradores de rua a desmontar suas tendas e procurar abrigo em albergues da cidade.
Na condução de medidas relacionadas à pandemia, a expectativa é a de seguir os critérios técnicos utilizados até aqui para liberar ou não mais alunos nas salas de aula ou ampliar a ocupação do comércio, por exemplo.
E, assim como seus antecessores, deve seguir a política de regularizar imóveis e manter a isenção de tributos municipais a igrejas e a oferta de descontos a empresários em débito com o município.
Outra "característica" que não deve mudar é o loteamento das subprefeituras por ex-colegas vereadores — o próprio Nunes exerce influência sobre a regional de Santo Amaro, seu reduto eleitoral, desde a gestão de Fernando Haddad (PT).
Durante a campanha, no entanto, a influência política e o conhecimento fiscal perderam espaço para a notícia de que a mulher de Nunes registrou um boletim de ocorrência por agressão e ameaça, em 2011, e o vice passou a ser questionado e até mesmo escondido em entrevistas e debates.
Ao jornal O Estado de S. Paulo, o agora prefeito disse que sua mulher afirma não ter registrado tal boletim.
— Ela até contratou um advogado para procurar esse documento e ele simplesmente não existe. Eu amo a minha mulher, estamos juntos há 23 anos. Nunca fiz qualquer agressão. Foi coisa de campanha isso.
Oposição
Na Câmara, a perspectiva segue a mesma: assim como a gestão Covas, a administração Nunes terá de negociar projeto a projeto mas, desta vez, com vereadores petistas possivelmente menos aguerridos na oposição.
Isso porque até 2016, quando João Doria (PSDB) tornou-se prefeito, PT e MDB eram aliados na Casa.