O presidente Jair Bolsonaro informou nesta segunda-feira (5) que visitará o prefeito de Chapecó, João Rodrigues, um defensor do chamado tratamento precoce contra a covid-19, mas que não tem eficácia comprovada. Bolsonaro elogiou Rodrigues e disse que o prefeito do município do oeste de Santa Catarina fez "um trabalho excepcional", incluindo com o tratamento de paciente "na ponta da linha" e "liberdade total" para os médicos.
— Quarta ou quinta-feira agora estarei em Chapecó, visitarei o prefeito João Rodrigues, onde fez um trabalho excepcional no tocante aos recursos dados pelo Estado e o atendimento na ponta da linha de quem necessitava do tratamento — citou o presidente em evento para entregas de residências do programa Casa Verde Amarela em São Sebastião, região administrativa do Distrito Federal.
Mais cedo, o presidente já havia compartilhado em suas redes sociais vídeo de Rodrigues em que o prefeito afirma ter usado no município o "protocolo de tratamento precoce" e incentiva governadores e prefeitos a "não ter medo" e tratar "seus pacientes com tudo aquilo que é possível". Na publicação, Bolsonaro escreveu "ouçam o prefeito de Chapecó/SC".
— Foi uma obra fantástica por parte dele (Rodrigues), é um exemplo a ser seguido, por isso estou indo para lá. Para exatamente não só ver, mas como mostrar a todo o Brasil que o vírus é grave, mas seus efeitos têm como ser combatidos — declarou Bolsonaro.
Defensor do tratamento "off label", fora da bula, Bolsonaro destacou que em Chapecó os médicos têm "liberdade total" para indicar tratamentos aos seus pacientes.
— Mais ainda, naquele município (Chapecó) — com toda certeza em mais também, em alguns Estados também — o médico tem a liberdade total para trabalhar com o paciente, total. E esse é dever do médico, uma obrigação e direito dele — disse o presidente.
A ideia do tratamento precoce vai na contramão do que é defendido pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. Ele também foi chamado a ir junto com Bolsonaro para a visita em Chapecó — a cidade foi visitada pelo ex-ministro Eduardo Pazuello em março. Ainda não há confirmação oficial sobre se Queiroga viajará junto com o presidente.
— Não tem um remédio específico, ele (médico) trata da melhor maneira possível por isso os índices foram lá para baixo (em Chapecó) — citou Bolsonaro.
Em fevereiro, contudo, Chapecó também vivenciou alta dos casos da doença e das mortes provocadas pela covid-19. Segundo o último boletim epidemiológico da Secretaria de Saúde de Chapecó desta segunda-feira, o município acumula 537 óbitos pela doença e quase de 34 mil casos positivos. Há exatos dois meses, em 5 de fevereiro, o município registrava 153 óbitos desde o início da pandemia — o número mais do que triplicou desde então.
Ao longo da pandemia, Bolsonaro defendeu o tratamento com remédios sem comprovação científica contra coronavírus, como cloroquina, hidroxicloroquina, ivermectina e azitromicina. O chefe do Executivo chegou a exibir uma caixa de hidroxicloroquina em reunião do G20.
Em suas lives semanais, o presidente já se referiu ao tratamento precoce como "tratamento inicial" e "tratamento preventivo". Na última transmissão ao vivo, Bolsonaro disse que "o tratamento precoce passou a ser crime no Brasil", ao ironizar as críticas a essa abordagem.
Nesta segunda-feira, o presidente também voltou a defender a retomada das atividades econômicas:
— Bato na mesma tecla desde março do ano passado, temos dois problemas pela frente gravíssimos ainda, o vírus e o desemprego. E também sempre bati na mesma tecla as medidas para combater o vírus, os seus efeitos colaterais não podem ser mais danosos que o próprio vírus. O Brasil precisa voltar a trabalhar.