O ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, afirmou ser vítima de “uma narrativa falsa e hipócrita” no âmbito da obtenção de vacinas contra a covid-19, em carta de demissão divulgada na noite desta segunda-feira (29). Araújo pediu demissão da pasta no período da manhã.
O então ministro vinha sendo alvo de pressões do Senado, de opositores do governo Jair Bolsonaro e de ao menos 300 diplomatas críticos à atual política externa brasileira. Na carta, Araújo também reclama de “correntes que querem voltar ao poder”.
"Ergueu-se contra mim uma narrativa falsa e hipócrita, a serviço de interesses escusos nacionais e estrangeiros, segundo a qual minha atuação prejudicaria a obtenção de vacinas. Exibi todos os fatos que desmentem tais alegações, mas infelizmente, neste momento da vida nacional, a verdade não importa para as correntes que querem voltar ao poder — esse poder que, durante as décadas em que exerceram, só trouxe ao Brasil atraso, corrupção e desgraça”, afirma o ex-ministro.
No início do documento, Araújo afirma que lutou pela liberdade e dignidade do país e do povo brasileiro e que procurou "colocar o Itamaraty a serviço do sonho de um novo Brasil", mas que deparou com "correntes frontalmente adversas":
“Desse choque — do qual não posso recuar sem renunciar aos princípios que com o senhor compartilho — surgiu nestes últimos duas uma situação que torna impossível seguir trabalhando por nossos ideias na posição que nesse momento ocupo"
No fim da carta, o então ministro coloca o carga à disposição, segundo ele, "em benefício do projeto de transformação nacional" que o presidente Bolsonaro encabeça e em nome de suas convicções profundas.
Bolsonaro vinha sendo pressionado por diversos setores, desde a semana passada, a demitir o ministro. A pressão também vinha dos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG).
Eles consideram que Araújo mais atrapalhou do que ajudou o país nas medidas de combate ao coronavírus. A relação tensa que mantinha com a China, principalmente, causou atrasos no envio de matéria-prima para produção de vacinas contra a covid-19.
Acusações do então ministro no sentido de que senadora Kátia Abreu (PP-TO) teria atuado em favor de interesses da China na questão do mercado de 5G foram criticadas por diversos senadores, aumentando a pressão contra ele.
*Com Débora Cademartori