Dezesseis governadores, entre eles Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul, divulgaram mais uma carta aberta nesta segunda-feira (29), pedindo "verdade e paz" durante o pior momento da pandemia no país. Segundo eles, agentes políticos "espalham mentiras sobre dinheiro jamais repassado aos Estados, fomentam tentativas de cassação de mandatos e tentam manipular policiais contra a ordem democrática". Esse processo, conforme os governadores, cria instabilidade institucional nos Estados.
A carta traz um protesto específico contra autoridades federais, inclusive do Congresso Nacional, que violam princípios da lealdade federativa. Para os gestores estaduais, estimular motins policiais, divulgar fake news, agredir governadores e adversários políticos são procedimentos "repugnantes", que não podem prosperar em um país livre e democrático.
A manifestação dos governadores vem um dia depois de a deputada Bia Kicis (PSL-DF), presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, ter estimulado motim de policiais militares na Bahia. A publicação no Twitter, que foi apagada após horas no ar, diz respeito à morte do soldado Wesley Soares, baleado no início da noite de domingo (28) depois de ter passado cerca de quatro horas dando tiros para o alto e gritando palavras de ordem no Farol da Barra, um dos principais pontos turísticos de Salvador.
Soares foi atingido por tiros por volta das 18h30min, após ter erguido um fuzil e disparado contra os colegas da PM que negociavam a sua rendição. O soldado chegou a ser socorrido por uma ambulância e foi levado para o Hospital Geral do Estado, mas não resistiu aos ferimentos e morreu na noite de domingo.
A deputada escreveu "Soldado da PM da Bahia abatido por seus companheiros. Morreu porque se recusou a prender trabalhadores. Disse não às ordens ilegais do governador Rui Costa da Bahia. Esse soldado é um herói. Agora a PM da Bahia parou. Chega de cumprir ordem ilegal!”. Bia apagou a postagem na manhã desta segunda-feira e reescreveu: "As redes se comoveram e eu também. Hoje cedo removi o post para aguardarmos as investigações. Inclusive diante do reconhecimento da fundamental hierarquia militar".
Por fim, os governadores agradecem aos integrantes das forças de segurança na carta. Assinam o manifesto os governadores Rui Costa (BA), Flavio Dino (MA), Helder Barbalho (PA), Paulo Câmara (PE), João Doria (SP), Ronaldo Caiado (GO), Mauro Mendes (MT), Eduardo Leite (RS), Camilo Santana (CE), João Azevedo (PB), Renato Casagrande (ES), Wellington Dias (PI), Fátima Bezerra (RN), Belivaldo Chagas (SE), Reinaldo Azambuja (MS) e Waldez Goés (AP).
Leia a íntegra do documento:
"CARTA DOS GOVERNADORES: QUEREMOS VERDADE E PAZ!
Os governadores manifestam sua indignação em face da crescente onda de agressões e difusão de Fake News que visam a criar instabilidade institucional nos Estados e no País. Vivemos um período de emergência na saúde, e a vida de todos os brasileiros está em grave risco.
Os governadores, juntamente com os servidores públicos e profissionais do setor privado, estão lutando muito para garantir atendimento de saúde e apoio social à população. Enquanto isso, alguns agentes políticos espalham mentiras sobre dinheiro jamais repassado aos estados, fomentam tentativas de cassação de mandatos, tentam manipular policiais contra a ordem democrática, entre outros atos absurdos.
Registramos especialmente o nosso protesto quando são autoridades federais, inclusive do Congresso Nacional, que violam os princípios da lealdade federativa.
Conclamamos o Presidente da República, os Presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, bem como o Presidente do Supremo Tribunal Federal, para que adotem todas as providências de modo a coibir tais atos ilegais e imorais.
Os Estados e todos os agentes públicos precisam de paz para prosseguir com o seu trabalho, salvando vidas e empregos. Estimular motins policiais, divulgar Fake News, agredir Governadores e adversários políticos, são procedimentos repugnantes, que não podem prosperar em um país livre e democrático.
Finalmente, sublinhamos a nossa gratidão a todos os servidores públicos e profissionais que têm atuado incessantemente para vencermos a pandemia. Merecem especial destaque as forças policiais, que têm a nossa solidariedade e apoio em relação a reivindicações justas quanto à vacinação, pleito em análise no âmbito do Ministério da Saúde pela Comissão Intergestores Tripartite - CIT.
Brasília, 29 de março de 2021."