O segundo parágrafo da carta de demissão do ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, é um recado aos bons entendedores.
“Nesse período, preservei as Forças Armadas como instituições de Estado”.
Preservou em relação a que, perguntam os civis? Em relação às ingerências da política, repetem colegas de farda do general Azevedo. Falei com um general nesta segunda-feira (29), um que conhece bem o ministro que se demitiu. A razão seria ele ser encarado, por Jair Bolsonaro, como um foco de resistência à fidelidade que o presidente deseja imprimir aos militares – estejam eles entre os 6 mil ocupantes de cargos governamentais ou apenas nos quartéis, cumprindo sua missão constitucional.
Alguns ex-ministros, como o general gaúcho Carlos Alberto dos Santos Cruz, costumam repetir que as Forças Armadas são do Estado e não do governo. Algo que desagrada a Bolsonaro, acrescenta Santos Cruz.
Seguindo uma tradição no atual governo, para evitar desgastes, Azevedo teria se demitido e não foi demitido. Seria uma forma de não romper totalmente e ser lembrado em futuras posições, se for o caso. Duas versões circulam em Brasília a respeito da decisão do ministro em se demitir. Uma delas é que teria protegido o Comandante do Exército, o também gaúcho general Edson Pujol, que desde o início do governo tem relutado em fazer dos militares apêndices do governo. Ao contrário, ele sempre avisa os generais que, aceito um cargo, eles devem dar adeus às Forças Armadas. Isso teria desagradado a Bolsonaro.
A outra versão é prosaica: Bolsonaro teria ficado muito contrariado com entrevista concedida no domingo (28) pelo general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, responsável pela gestão de Recursos Humanos do Exército, na qual ele alerta que o Brasil pode sofrer uma terceira onda de contaminação pela covid-19 (“França e Alemanha já estão começando”) e cogita um lockdown. Como se sabe, o presidente nem pode ouvir essa palavra. Vinda de um militar graduado, soa como insubordinação às ideias governamentais, cogitam integrantes das Forças Armadas.
O mais cotado para assumir o lugar de Azevedo é o general Walter Braga Netto, hoje na Casa Civil. Esse, por sua vez, seria substituído por outro general, Luiz Eduardo Ramos, atual ministro-chefe da Secretaria de Governo. Ambos são extremamente fiéis a Bolsonaro.