O primeiro discurso do deputado Gabriel Souza (MDB) como presidente da Assembleia Legislativa foi marcado por um alerta aos 54 colegas de parlamento: a crise de representatividade da classe política. A solução para o problema passa, na avaliação do parlamentar, pelo aumento da participação popular pela internet e por melhorias nos serviços públicos por meio da redução da máquina pública estatal.
Souza atravessou os seus 33 minutos de discurso elencando a desconexão do parlamento e das demais estruturas de Estado com o atual estágio tecnológico e comportamental da sociedade.
— Precisamos de modernização não apenas digital, mas da sua cultura, das suas entregas e inclusive de alguns exageros. Foi o tempo de pensar o Estado numa lógica de prédios de concreto, de sedes, de repartições, de salinhas ou de salões suntuosos. Esse Estado patrimonialista, herança ainda de um Brasil Colônia, já mofou faz tempo. Ele foi derrotado por isto, por um simples aparelho de celular. Não precisamos destruir memórias e símbolos, mas precisamos repensar e qualificar o serviço público — disse Souza, lembrando que a crise de representatividade política abre espaço para os detratores da democracia defenderem regimes autocráticos.
Questionado em entrevista coletiva sobre como pretende reduzir gastos na Assembleia Legislativa, o novo presidente advogou em defesa da digitalização dos processos:
— Como fazer para o órgão público em geral ter menos gasto público? Temos uma grande oportunidade de fazê-lo: o nosso modelo de representação política migrar para o meio digital.
O aumento da participação digital é uma das promessas de sua gestão, reafirmada ao longo do primeiro discurso. Uma das ideias de Souza é criar uma plataforma de consulta popular, aos moldes do que existe no Congresso.
— Cabe, numa era digital, que a população seja chamada ao escrutínio público somente a cada quatro anos, em tempo de eleições? Ora, não tenho dúvidas de que há maneiras de criar fluxos, rotinas, ferramentas e soluções para que a sociedade expresse permanentemente suas demandas a nós, seus representantes — acrescentou, ainda em seu primeiro discurso.
Souza foi líder do governo Sartori na Assembleia, entre 2016 e 2018. À época, o emedebista foi um dos articulares da proposta para acabar com a obrigatoriedade de realização de um plebiscito que autorizasse a venda das empresas estatais de energia do Rio Grande do Sul. O fim da obrigatoriedade da consulta aos eleitores gaúchos acabou sendo aprovada durante a atual gestão, do governador Eduardo Leite.