Seis anos após cravada a primeira estaca de uma das obras viárias mais aguardadas pelos gaúchos, a nova ponte sobre o Guaíba foi inaugurada na manhã desta quinta-feira (10), em Porto Alegre. Juntos, o presidente Jair Bolsonaro e o governador Eduardo Leite descerraram a placa que simboliza a liberação parcial do tráfego, com a liberação de três das seis vias de acesso.
Bolsonaro também inaugurou mais um trecho da duplicação da BR-116, entre Pelotas e Guaíba. Nas pouco mais de três horas em que permaneceu no Estado, sempre sem máscara, o presidente cumprimentou motoristas à beira da rodovia, dirigiu um veículo da Polícia Rodoviária Federal (PRF), garantiu a intenção de adquirir vacinas para imunizar a população contra a covid-19 e disse que o Brasil passa pelo “finalzinho da pandemia”, embora haja registro de crescimento nas mortes em 22 das 27 unidades federativas do país.
Bolsonaro chegou a Porto Alegre pouco antes das 10h, acompanhado por um séquito de ministros e parlamentares. Num palco montado sobre a estrutura da nova ponte, o presidente discursou por 15 minutos. Começou dizendo se sentir em casa no Rio Grande do Sul, lembrou que a construção da travessia passou por três governos e salientou a vontade de concluir todas as obras “possíveis de ser terminadas”.
Em seguida, Bolsonaro defendeu a ação do governo no combate ao coronavírus, falou sobre o resultado da economia e citou o auxílio emergencial pago a 67 milhões de pessoas, bem como os repasses feitos a Estados e municípios.
— Estamos vivendo o finalzinho de pandemia. O nosso governo, levando-se em conta outros países do mundo, foi aquele que melhor se saiu, ou um dos que melhor se saíram no tocante à economia — afirmou.
O presidente voltou a defender o uso de hidroxicloroquina no tratamento da covid, a despeito da ausência de comprovação científica sobre a eficácia do medicamento. Como exemplo, citou o emprego da substância na África, onde pacientes de malária e covid teriam sido curados das duas doenças.
— Precisa ser muito inteligente para entender que a hidroxicloroquina serve para as duas coisas? Não precisa ser muito inteligente — argumentou, relacionando uma suposta eficácia do medicamento à queda no índice de mortos por milhão de habitantes.
— Devemos levar tranquilidade à população e não o caos. O que aconteceu no início da pandemia não leva à nada. Lamentamos as mortes profundamente e assim sendo, vamos vencendo obstáculos — declarou em seguida.
Ao reafirmar que “saúde e economia devem andar de mãos dadas”, Bolsonaro destacou o aumento da inflação — o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgados na terça-feira (8) pelo IBGE, apresentou o pior resultado para novembro nos últimos cinco anos, com alta de 0,89%. Se dirigindo ao deputado Alceu Moreira (MDB-RS), presidente da Frente Parlamentar Agropecuária, nominou especificamente a alta nos preços do arroz e do óleo de soja, mas comemorou que “o campo não parou”.
— É menos ruim ter uma inflação do que o desabastecimento — considerou.
O presidente citou ainda o emprego do Exército no apagão energético ocorrido no Amapá, na conclusão de uma barragem para abastecimento de água em Bagé e em obras viárias país afora. Quase no fim do discurso, fez questão de cumprimentar dois deputados gaúchos, Lucas Redecker (PSDB) e Marcelo Moraes (PTB), filhos de ex-colegas seus na Câmara, Júlio Redecker, falecido em 2007, e Sérgio Moraes, cujo nome Bolsonaro esqueceu.
— Pelo amor de Deus, cadê o nome dele aqui, pessoal? É aquele cara: “Tô me lixando pra imprensa” — exemplificou, citando uma frase dita por Moraes em 2009, quando integrava o Conselho de Ética da Câmara.
Somente no encerramento do discurso, Bolsonaro voltou a falar da ponte, ao agradecer o trabalho dos operários. Prevista inicialmente para ser entregue em 2017, a obra promete gerar um alívio no trânsito na ligação entre a Capital e a metade sul do Estado. Contudo, três ramos da interseção com a freeway só devem ser terminados em 2021.
Segundo o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), é preciso ainda realocar 600 famílias que residem nas comunidades Tio Zeca e Areia, no bairro Humaitá. O órgão alega que os reassentamentos não ocorreram neste ano em razão das medidas preventivas ao coronavírus, que impediram audiências públicas e outros trâmites obrigatórios. Pela manhã, moradores da área protestaram pedindo audiência judicial que defina as indenizações. Na solenidade, o ministro de Infraestrutura, Tarcísio Freitas, justificou a inauguração mesmo sem que a obra esteja totalmente concluída:
— E me perguntam: e o resto da obra? Continua sendo prioridade, mas a lógica é essa: se está pronta, vamos liberar logo para a população usar.
Ao fim da solenidade, Bolsonaro não seguiu o protocolo previsto na agenda e dispensou a caminhada sobre um trecho da ponte. De helicóptero, seguiu para Barra do Ribeiro, onde entregou um trecho de 27 quilômetros da duplicação da BR-116. Em seu segundo compromisso no Estado, o presidente provocou aglomerações, tirou fotos com apoiadores e depois se posicionou na margem da rodovia, cumprimentando os motoristas que passavam lentamente em função dos bloqueios no trânsito. Antes de retornar a Brasília, Bolsonaro assumiu o volante de um veículo da PRF e dirigiu por alguns quilômetros.