Como define um velho ditado, o segundo turno em Santa Maria vai ser renhido, pegado, tipo briga de foice no escuro.O vice-prefeito Sérgio Cecchin (PP) larga na frente, com vantagem de apenas um ponto e meio percentual contra o atual prefeito, Jorge Pozzobom (PSDB). A relação entre os dois desandou de vez em março deste ano, quando o PP decidiu que teria candidatura própria na maior cidade da região central do Estado. Desde então, os dois eleitos em 2016 duelam em debates, entrevistas e propostas.
O engenheiro Cecchin, seis vezes vereador e duas vezes vice-prefeito, largou na frente no primeiro turno, com 26,49% dos votos válidos. O advogado Pozzobom, fenômeno que derrotou o petismo em 2016, está nos calcanhares do líder, com 24,89%. Os dois quebraram uma tradição em Santa Maria: impediram que a esquerda colocasse um candidato entre os dois mais votados, algo que não ocorria desde a década de 80 do século 20. Os representantes com proposta esquerdista eram dois radialistas, Luciano Guerra (PT) e Marcelo Bisogno (PDT). Participaram também da eleição majoritária o pastor evangélico Jader Maretoli (Republicanos) e o empresário Evandro Behr (Cidadania).
A busca pelos mais de 64 mil votos dos que perderam o primeiro turno não será uma disputa ideológica, porque os dois candidatos que superaram a primeira etapa são do mesmo espectro político e foram parceiros de governo. Tampouco vai adiantar bater no governo, até porque ambos ERAM governo até começar a disputa eleitoral. O mais provável é que Pozzobom se mostre aos eleitores como uma proposta moderna, parceira do governador Eduardo Leite (seu colega de partido) e longe dos extremismos. Já Cecchin vai vender sua experiência, como um dos mais antigos políticos santa-marienses em atividade.
Pozzobom, por exemplo, adianta acena buscas de votos no campo da esquerda. Ontem, antes mesmo de iniciada a contagem, ele fez elogios a alguns petistas que, com votos, impediram seu impeachment num processo movido este ano. Falou em conversar com Valdeci Oliveira (deputado estadual e padrinho politico de Luciano Guerra), a quem derrotou por apenas 226 votos em 2016 e com quem mantém relação cordial.
- A política moderna olha a administração, a melhor proposta, não o ranço ideológico - justificou Pozzobom.
Cecchin, em entrevista a GZH, disse que é cedo para falar em nomes, até por respeito aos derrotados. Escorado em duas legendas que governaram Santa Maria por décadas (PP e MDB), ele afirma que vai percorrer as ruas da cidade, que conhece "como ninguém".
- Conheço nome por nome, bairro por bairro. Estou nisso desde meados dos Anos 70, deve servir para alguma coisa em política - brinca, sorridente.
Uma incógnita, por exemplo, é o destino dos votos angariados pelo pastor Maretoli, que alcançou quarto lugar. Ele se definiu como candidato "de Deus e da família" aos apoiadores. Até 29 de novembro Cecchin e Pozzobom terão de mostrar qual deles se aproxima mais da figurino de condutor de fieis eleitores evangélicos cevados por Maretoli.
Os dois também disputam o voto dos 9,3 mil militares de Santa Maria, em grande parte bolsonaristas e cujo apoio se diluiu em quatro candidaturas no primeiro turno. Em resumo: só não vale falar mal da última gestão na prefeitura, da qual os dois adversários participaram.