Cidade marcada por dois polos de atração de jovens — as universidades e os quartéis das Forças Armadas — Santa Maria, com 283 mil habitantes, experimentará no domingo (15) uma disputa que mais se assemelha a um plebiscito. Os 204 mil eleitores decidirão se aprovam a gestão do prefeito, o advogado Jorge Pozzobom (PSDB), que é candidato à reeleição, ou se a repudiam.
Quem ganhar leva o prêmio de comandar o quinto maior colégio eleitoral do Estado e uma das maiores concentrações de funcionários públicos do país. O município, cuja prefeitura conta com orçamento anual de R$ 870 milhões, tem várias universidades (inclusive uma federal) e também abriga o segundo maior contingente militar do país, perdendo apenas para o Rio de Janeiro. São 9,3 mil integrantes das Forças Armadas, distribuídos em 21 quartéis. A possível abertura de uma Escola de Sargentos pode agregar a esses outros 2,1 mil fardados e um investimento de R$ 1 bilhão, que injetaria R$ 250 milhões na economia local. Nada desprezíveis para quem pretende recuperar um pouco das vagas de trabalho fechadas durante a pandemia.
É uma cidade com grande dinamismo, mas muitos problemas. Congestionamentos viraram rotina, num cenário repleto de carros e com poucos ônibus, além de ruas esburacadas. A economia, baseada sobretudo no comércio, sofreu um baque tremendo com a pandemia de covid-19. E o sistema de saúde, apesar de contar com grandes hospitais, enfrenta filas de espera.
Esse é o desafio que o atual prefeito, Pozzobom, promete driblar. O atual mandatário é favorito nas pesquisas de intenção de voto divulgadas até agora, mas é alvo de todos os outros candidatos, como mostrou o último debate, realizado quinta-feira (12). Um dos seus mais renhidos adversários, curiosamente, também integrava seu governo. É o vice-prefeito, o engenheiro Sergio Cechin (Progressistas), que está nos calcanhares do tucano, nas sondagens de opinião. Eles disputarão com candidatos à esquerda e à direita no espectro político, provavelmente com segundo turno a decidir o páreo.
A briga entre o prefeito e seu vice começou quando o Progressistas, embalado na onda bolsonarista, decidiu romper com Pozzobom em março e correr sozinho o páreo deste ano em Santa Maria. O experiente Cechin, seis vezes vereador em outras épocas, carregou consigo, como candidato a vice, outro ex-integrante do governo municipal, o médico e vereador de primeiro mandato Francisco Harrisson (MDB), conhecido como Dr. Francisco, que em janeiro era o secretário de Saúde do município.
Cecchin tentou também apoio do Podemos e contava com as lideranças locais da sigla, mas aí o diretório estadual desse partido determinou que o apoio deveria ser dado a Pozzobom. Com isso, o atual prefeito acrescentou bom tempo à propaganda eleitoral na TV. Ele terá como vice o empresário Rodrigo Decimo (PSL), um estreante na política partidária, também de olho no voto bolsonarista.
Tanto Pozzobom como Cechin fazem das realizações do atual governo e da recuperação da economia suas maiores bandeiras. Cechin ainda acena com uma escola cívico-militar para a cidade.
Um terceiro aspirante a prefeito pode canalizar votos bolsonaristas: Jader Maretoli (Republicanos), que é pastor evangélico e se define como "candidato da família e de Deus". É a segunda tentativa que faz de governar o município. Na outra, em 2016, conseguiu 19,4 mil votos e um quarto lugar. Até março passado, era secretário-adjunto de Esporte no governo estadual de Eduardo Leite (PSDB). Apoiado no currículo, promete atuar forte na área de esporte e lazer.
Já a oposição histórica e ideológica a Pozzobom, situada à esquerda, está dividida em duas candidaturas. O PT vai com um líder jovem, o radialista Luciano Guerra, vereador em segundo mandato e parlamentar mais votado nas eleições de 2016, com 4,2 mil votos. Ele é afilhado do ex-prefeito petista Valdeci Oliveira, hoje deputado estadual, que, em 2016, protagonizou com Pozzobom a mais renhida disputa no país. Perdeu por apenas 226 votos a eleição para prefeito de Santa Maria. Agora Valdeci coordena a campanha do PT no município. O vice da chapa, Marion Mortari, não é ligado a uma sigla de esquerda. É do Partido Social Democrático (PSD) e vem da área rural, assim como Guerra. As bandeiras petistas são participação, inclusão e respeito à diversidade.
A outra candidatura de esquerda é também de um radialista, Marcelo Bisogno (PDT), ex-vereador, que disputa pela segunda vez seguida a prefeitura. Em 2016, alcançou o quinto lugar, com 12,5 mil votos. Ex-assessor da deputada estadual Juliana Brizola (PDT), ele montou chapa com outro candidato de esquerda como vice, o ex-deputado estadual Fabiano Pereira (PSB), que foi secretário estadual da Justiça e Direitos Humanos e de Obras. Ele estava cotado para concorrer a prefeito pelo seu partido, mas o PSB optou por uma composição com os pedetistas. A chapa prega desburocratização dos processos para estimular investimentos no município e resolução das filas nos postos de saúde, entre outras providências.
Do meio do espectro ideológico surge um candidato do partido Cidadania. É o advogado e empresário Evandro de Barros Behr, filho do ex-prefeito Evandro Behr. Ele já foi candidato a vice-prefeito, em 2000, em chapa com Cezar Schirmer (MDB), derrotada na época. Ele também tentou ser deputado estadual, em 2002. Sua bandeira é a retomada do desenvolvimento em Santa Maria.
Os candidatos, seus vices e suas bandeiras
À parte diferenças ideológicas, o que mais pesa na eleição municipal em Santa Maria são as questões estruturais da cidade. Conheça os principais pontos programáticos dos candidatos:
Jorge Pozzobom (prefeito, pelo PSDB) e Rodrigo Decimo (vice, pelo PSL). Apoio de Podemos, DEM, PTB e PTC. Propõe concluir o Plano Diretor de Transporte Coletivo Urbano e a licitação de transporte público, ampliar o número de postos de saúde e seus horários e desburocratizar processos para atrair mais empresas para o município.
Sergio Cechin (prefeito, pelo PP) e Francisco Harrisson (vice, pelo MDB). Apoios de PRTB, Patriota, Pros, PL, Avante e Solidariedade. Propõe criar um Anel Viário, a começar pela perimetral Sul-Leste. Aumentar o número de Equipes de Saúde da Família em 50%. E agilizar a inscrição municipal instantânea para empreendimentos de baixo risco.
Luciano Guerra (prefeito, pelo PT) e Marion Mortari (vice, pelo PSD). Propõe concluir as obras do projeto de Travessia Urbana e executar um Plano de Mobilidade Urbana que priorize o transporte coletivo. Informatizar a rede de saúde e ampliar horário dos postos. E garantir isenção de impostos a pequenas e médias empresas, no primeiro ano de funcionamento.
Marcelo Bisogno (prefeito, pelo PDT) e Fabiano Pereira (vice, pelo PSB). Apoios de PCdoB, Rede e PV. Propõe implementar elevadas e túneis para concluir o projeto de Travessia Urbana. Ampliar equipes de Estratégia de Saúde da Família e os horários dos postos de atendimento. E descentralizar o Samu.
Jader Maretoli (prefeito) e Maria Helena Rodrigues (vice), ambos pelo Republicanos. Apoio do PSC. Propõe melhorar a iluminação pública com vistas à segurança e criar onda verde nos semáforos. Buscar gestão plena de saúde e criar clínicas específicas para atender mulheres e idosos. E fomentar uma lei de incentivo à industrialização, além de estímulo ao setor agrícola, com criação da Sesa.
Evandro de Barros Behr (prefeito) e Carla Kowalski (vice), ambos pelo Cidadania. Apoio do Democracia Cristã. Propõe revisar o Plano Diretor de Mobilidade Urbana, com vistas à melhoria do transporte coletivo. Criar postos de saúde em regiões hoje carentes desse serviço. E desburocratizar a atração de empresas, com facilitação de crédito regional, além de construir a Região Metropolitana do Coração do Rio Grande (sediada em Santa Maria).