O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu o depoimento do deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG) no âmbito de inquérito sobre superfaturamento na construção da Cidade Administrativa, sede do governo estadual mineiro, até que o parlamentar tenha acesso integral às delações premiadas que constam nos autos relacionados à investigação. A decisão foi dada na segunda-feira (10), sendo que a oitiva de Aécio estava prevista para esta quarta (12).
A suspensão foi determinada após pedido da defesa de Aécio, que enviou petição ao STF contra decisão do Juízo da Vara de Inquéritos Policiais de Belo Horizonte, que manteve o interrogatório de Aécio para esta quarta. A oitiva já havia sido redesignada, pois estava prevista para o dia 6 de agosto.
Os advogados alegaram no entanto que até sexta (7) não tinham obtido acesso às delações premiadas da OAS e da Santa Bárbara Engenharia, que constam em processos ligados à investigação sobre a construção da Cidade Administrativa. Desta maneira, pediram a suspensão da oitiva de Aécio de maneira a garantir "tempo hábil suficiente para a análise da defesa".
O acesso integral aos relatos de delatores sobre o caso foi garantido por Alexandre em decisão proferida no dia 5 de agosto. Moraes atendeu a pedido da defesa, que alegava que não teve acesso aos depoimentos que incriminaram Aécio perante o Juízo da Vara de Inquéritos Policiais de Belo Horizonte, mas restringiu documentos e provas relacionadas às diligências ainda em andamento na investigação.
Ao analisar a nova petição dos advogados do tucano, Alexandre entendeu que foram juntados aos autos "documentos inequívocos de descumprimento" da decisão que proferiu na última semana.
"Suspendo o depoimento do reclamante, para data posterior ao acesso integral das declarações prestadas pelos colaboradores que incriminam o reclamante, já documentadas, bem como aos documentos todos e que não se refiram a diligências em andamento, que possam ser prejudicadas, existentes nos autos dos REs n.s 007/2019 e 028/2019, respectivamente vinculados ao Inquérito Policial n. 0605503-14.2018.8.13.0024, todos em trâmite na Vara de Inquéritos Policiais da Comarca de Belo Horizonte, do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, em prazo razoável para a análise da defesa, sob pena de configuração das responsabilidades administrativa e criminal por parte da autoridade que vier a descumprir a presente decisão", escreveu o ministro.
Aécio e outras 11 pessoas foram indiciadas em maio pela Polícia Federal por corrupção, desvio de recursos públicos e falsidade ideológica em suposto esquema de superfaturamento na construção da Cidade Administrativa de Minas Gerais entre 2007 e 2010.
O investigadores também apontaram indícios de desvio de R$ 232 milhões em recursos públicos por meio de contratações fictícias, cujos serviços não foram prestado. Somado à fraude na licitação, o prejuízo aos cofres do governo mineiro chegam a R$ 747 milhões em valores atualizados.
Em maio, a defesa do tucano afirmou que o indiciamento era "absurdo". "A obra foi acompanhada por auditoria independente e seu edital apresentado ao TCE e ao Ministério Público que não apontaram qualquer irregularidade", afirmaram os advogados de Aécio.