O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, afirmou na noite desta segunda-feira (20) que não se arrepende de ter votado em Jair Bolsonaro nas eleições de 2018, mas que o presidente estimula a divisão do Brasil. Em relação ao enfrentamento da pandemia causada pelo coronavírus no país, o governador ainda afirmou que o governo federal se equivocou. As declarações foram dadas ao programa Roda Viva, da TV Cultura.
De acordo com Leite, seu papel como chefe do Executivo gaúcho não é fazer oposição ou enfrentar o presidente, mas buscar cooperação.
— Não deixo de externar minhas posições em relação a assuntos divergentes da opinião do presidente, aliás, como fiz em 2018, no segundo turno. Eu declarei o voto, mas não deixei de exercer a crítica e dizer com muita clareza onde estavam as minhas diferenças em relação ao então candidato Jair Bolsonaro, como no que diz respeito ao convívio harmonioso entre pessoas. Um presidente tem que unir o país, na minha visão, e não dividir, não aprofundar, a divisão.
Perguntado se sente arrependimento do voto, Leite afirma que o retorno do PT seria "muito ruim para o país":
— Não é a questão. Não tenho arrependimento. Naquela situação, acho que seria muito ruim o retorno do PT, depois de tudo que tinha acontecido. O melhor para o Brasil seria não ter tido aquele segundo turno, naquelas condições, mas (foi uma) decisão absolutamente soberana do povo.
Sobre o enfrentamento ao coronavírus, Leite acredita que o governo federal se "equivocou barbaramente":
— Especialmente (em relação ao distanciamento social) o governo federal se equivocou, para não dizer a outra palavra, barbaramente. Porque o distanciamento é mundialmente consagrado, inclusive por países com boa estrutura, com capacidade financeira, como uma ferramenta capaz de retardar o o crescimento e a disseminação do vírus. Mesmo as estruturas mais robustas de saúde no mundo não dispensaram algum grau de política de restrição de atividades.
Entretanto, o governador afirmou que a política econômica do ministro Paulo Guedes é "boa para o país", embora o PSDB tenha feito críticas ao ministro nas redes sociais.
— O ministro Paulo Guedes tem a agenda correta. A maior parte da agenda dele eu tenho absoluta convergência. O Estado precisa rever os seus gastos, austeridade fiscal, mais participação do setor privado, eu concordo plenamente. Mas essa pauta não se viabiliza politicamente porque, infelizmente, o presidente insiste em criar um ambiente difícil politicamente. E aí, a agenda é boa, mas fica na gaveta, e a sociedade acaba pagando o pato — declarou.
Leite afirma que pontos do texto do Fundeb precisam ser revistos
Em relação ao Fundeb, que garante o reforço de caixa de Estados e municípios para investimentos que vão da educação infantil ao ensino médio, Leite afirmou que a medida é "extremamente necessária" para o país mas que alguns pontos do projeto comprometem a sustentabilidade e ameaçam a sustentabilidade fiscal de governos como o do RS.
Leite não assinou uma carta de governadores em defesa do texto da deputada Professora Dorinha Seabra (DEM-TO), em defesa da proposta de emenda à Constituição (PEC) que tramita na Câmara dos Deputados. Pelo texto da relatora, o valor mínimo por aluno investido no Brasil passaria de R$ 3.427 para R$ 4.778 em 2026, salto de 39%. Já com a redação do governo, o valor mínimo chegaria, também em 2026, a R$ 4.145, alta de 21%. As projeções são da Consultoria do Orçamento da Câmara com base em valores de 2018.
— Eu entendo que todo o mundo quer viabilizar mais recursos, mas enquanto alguns Estados têm 15 mil professores aposentados para 30 mil professores em atividade, e recebem complementação da União, outros, como o RS, têm 100 mil aposentados para 50 mil em atividade. Então alguns pontos precisam ser revistos.
No relatório, a deputada Dorinha Seabra afirmou que pretende evitar que a verba seja usada para pagar inativos. Entenda mais sobre isso.
Governo estuda sistema de permutas para desafogar presídios gaúchos
Perguntado sobre o problema verificado em penitenciárias gaúchas, administrados por policiais militares e não agentes penitenciários, como o Presídio Central, o governador gaúcho afirmou que o Executivo estadual estuda adotar sistema de permuta para que sejam construídas novas unidades prisionais.
— Estamos no buscando estabelecer a construção de novos presídios a partir de um regime que até deu certo no governo que me antecedeu (de José Ivo Sartori), com permuta de áreas do Estado pela construção de unidades prisionais para que nós possamos distensionar e diminuir a pressão no Presídio Central de Porto Alegre. Estamos elaborando um plano para substituição dos policiais militares por agentes penitenciários. Mas isso vai levar tempo, não vai ser feito em um ano, dois anos.
Sobre as denúncias recentes dos ex-governadores tucanos Geraldo Alckmin, indiciado pela PF, e José Serra, denunciado, Leite disse que são casos diferentes em relação ao deputado federal Aécio Neves, que, para ele, merecia ser enquadrado na comissão de ética do PSDB.
Negociação do distanciamento controlado com prefeitos
Eduardo Leite negou, também, que haja uma incoerência entre a autorização para o retorno dos jogos do Campeonato Gaúcho, a negociação com prefeitos para gestão do sistema de distanciamento controlado e a necessidade de defender o distanciamento social.
— Não há três discursos. Há o mesmo posicionamento. O modelo do distanciamento controlado pressupõe ajuste e pactuação com a sociedade, e com os prefeitos, que são parte fundamental. Esse modelo é flexível justamente para ser resistente. E a gente precisa da compreensão dos prefeitos, porque é impossível fiscalizar se cada um dos restaurantes, dos hotéis, está cumprindo os protocolos sem os prefeitos. Por isso a gente dialoga. O que a gente vai propor à associação dos municípios é um sistema de cogestão. É para aprimorar, fortalecer o modelo, para que a gente consiga equilibrar saúde e economia — disse Leite.