Um dia após colocar sob bandeira vermelha quatro regiões do Estado no sistema de riscos para expansão da pandemia, o governador Eduardo Leite revisou a classificação e devolveu o alerta laranja aos municípios da Região Central e das Missões. O recuo ocorreu após forte resistência dos prefeitos à imposição de maiores restrições e um pedido uníssono de rechecagem nos dados que norteiam o modelo de distanciamento controlado.
Com a mudança, as regiões de Santa Maria e Santo Ângelo permanecem com quase totalidade da atividade econômica liberada. Já na Serra e na Fronteira Oeste, a bandeira vermelha foi confirmada, representando fechamento de parte do comércio pelo menos até a próxima segunda-feira. O governador fez um alerta à Região Metropolitana, cujo aumento na incidência de casos nos últimos dias pode levar a uma reclassificação no próximo final de semana.
— Para algumas pessoas, a flexibilização soou como uma volta à normalidade. Não é — sentenciou.
Na busca de uma pacificação com os prefeitos, cuja revolta com medidas impostas no sábado quase se transformam em desobediência coletiva, Leite mudou o funcionamento do modelo de bandeiras.
A partir desta semana, fica criada uma segunda instância no gabinete de crise do governo, a qual os municípios poderão recorrer na tentativa de revisão da classificação de risco. Houve também recuo no tempo de permanência sob a bandeira vermelha, anteriormente previsto para 14 dias. Agora, esse período só valerá para as regiões reincidentes na etiqueta rubra.
Reuniões com prefeitos
As novas medidas foram anunciadas por Leite em uma transmissão pelas redes sociais na tarde desta terça-feira. Antes, o governador passou mais de oito horas reunidos com os principais auxiliares envolvidos no enfrentamento da pandemia. A discussão começou na noite de segunda-feira, logo após as audiências com os prefeitos, e continuou na manhã desta terça. O objetivo era buscar uma conciliação e verificar se eram plausíveis os argumentos de alguns prefeitos que haviam verificado incorreções nos dados que abastecem o sistema.
Para a região de Santa Maria, pesou a inclusão de sete novos leitos de UTI. A estrutura já estava disponível na sexta-feira, quando o governo do Estado recolhe as informações junto aos municípios, mas só foi cadastrada no sábado. Com a revisão, os leitos foram considerados, permitindo um retorno à bandeira laranja. Nas Missões, não houve mudança nos dados, contudo pesou a estabilidade no número de internações e da capacidade hospitalar. Sem salto relevante na ocupação dos leitos, o governador atendeu ao pedido de reconsideração e devolveu à região o status laranja.
O mesmo não ocorreu em Uruguaiana. A prefeitura atendeu aos apelos do governo e disponibilizou para a rede estadual de atendimento à covid oito leitos de UTI que estavam vazios. Todavia, o reforço não foi suficiente para amenizar o risco de colapso, sobretudo diante de um aumento de 133% nas hospitalizações pelo coronavírus e do baixo número de pacientes recuperados na proporção com os ativos.
Na Serra, a situação é semelhante. Somente na última semana, as internações por covid-19 cresceram 174%, inviabilizando um recuo à bandeira laranja. Leite, porém, determinou à Secretaria da Saúde que avalie a possibilidade de divisão do território em zonas autônomas, com a separação do entorno de Caxias do Sul da região e Gramado e Canela e dos Campos de Cima da Serra.
Segundo o governador, no início todos os municípios foram reunidos numa só área em função de dependência de UTIs, mas a ampliação de leitos e do número de respiradores nas cidades vizinhas pode permitir uma subdivisão. Na concepção do atual modelo, o Estado foi dividido em sete macrorregiões e 20 regiões. A Serra é a única cuja macrorregião e região compreendem a mesma área.
Para calibrar os dados, Leite também adiantou de sexta para quinta-feira a coleta das informações que abastecem os 11 indicadores do sistema. Assim, as novas bandeiras serão divulgadas a cada sexta-feira, e não mais nos sábados. A antecipação permitirá aos prefeitos usarem o final de semana para apresentar um eventual pedido de reconsideração. O gabinete de crise irá avaliar os pedidos às segundas-feiras, adiando para terça-feira a entrada em vigor das medidas impostas por cada bandeira.
— Não faz sentido nos apegarmos num formalismo técnico se os dados estiverem errados — justificou o governador.
Apesar da disposição para corrigir eventuais falhas, o tucano voltou a insistir na necessidade de obediência dos prefeitos às regras impostas por cada bandeira. Leite também lembrou que o Ministério Público já avisou dos riscos de responsabilização cível e criminal dos gestores que não acatarem as medidas de prevenção ao controle da pandemia.