Na iminência da divulgação de um novo mapa de risco da pandemia, as duas regiões do Estado sob regras mais severas do distanciamento controlado correm para melhorar a infraestrutura hospitalar na tentativa de evitar reincidência na bandeira vermelha. Ao mesmo tempo, prefeitos e empresários aumentam a pressão política sobre o Piratini.
Vacaria e Garibaldi, na Serra, recorreram à Justiça. Em Garibaldi, o juiz Gerson da Silva concedeu liminar mantendo o município sob bandeira laranja. A resistência é um movimento em cadeia, liderado sobretudo por sindicatos rurais e associações do comércio e da indústria.
Na Serra, 32 novos leitos de UTI foram cadastrados junto à Secretaria Estadual da Saúde nos dois últimos dias. Na Fronteira Oeste, há a expectativa para a inclusão de 18 vagas, contudo apenas oito haviam sido registradas formalmente até o início da tarde de ontem. A pressa dos prefeitos é para fugir de mais duas semanas de restrições à atividade econômica.
Ao revisar o sistema de distanciamento controlado, na terça-feira, o governador Eduardo Leite reduziu à metade, de 14 para sete dias, o período de permanência sob bandeira vermelha. Com isso, se os indicadores melhorarem, Serra e Fronteira poderão receber uma bandeira mais amena a partir da próxima terça. Todavia, se as condições sanitárias se mantiverem, justificando nova bandeira vermelha, a regra prevê aos reincidentes duas semanas sob maior isolamento. Isso significa comércio fechado pelo menos até 7 de julho.
Na Serra, os novos leitos teriam sido criados a partir da iniciativa do empresariado local, receoso com novas restrições à atividade econômica. Na Fronteira Oeste, as prefeituras correram para buscar em Porto Alegre 10 respiradores enviados pelo Ministério da Saúde. A princípio, seriam cinco para Uruguaiana e cinco para Rosário do Sul.
Porém, não havia monitores suficientes para dar suporte ao atendimento em Uruguaiana, obrigando a prefeitura a despachar três respiradores a São Gabriel. Agora os gestores tentam disponibilizar as 10 vagas à população até segunda-feira, último dia para revisar os dados no sistema do Estado.
Em paralelo ao incremento dos hospitais, os prefeitos reforçam a pressão sobre o Piratini. É um movimento em cadeia, liderado sobretudo por sindicatos rurais e associações do comércio e da indústria. No Interior, os empresários emparedam os prefeitos, cujas demandas por maior flexibilização são repassadas aos deputados estaduais da região.
Pelas Missões, por exemplo, quem reclama é Eduardo Loureiro (PDT). Na Serra, os principais emissários da insatisfação são Fran Somensi (Republicanos) e Carlos Búrigo (MDB). Pelo Vale do Paranhana, falam Elton Weber e Dalciso Oliveira, ambos do PSB. Edson Brum (MDB) advoga em nome da região de Rio Pardo e Santa Cruz. Sempre que possível, os parlamentares tentam conversar direto com o governador.
Em geral, o descontentamento deságua nos gabinetes do presidente da Assembleia, Ernani Polo, e do líder do governo na Casa, Frederico Antunes, ambos do PP. Articulador político do Piratini, Antunes tem recebido mais cobranças de prefeitos e vereadores. Já Polo é interlocutor frequente das entidades empresariais. A despeito do bom trânsito junto à cúpula do governo, nenhum tem obtido muito êxito nos pedidos. Com o chefe da Casa Civil, Otomar Vivian, cumprindo isolamento em Caçapava do Sul, o Piratini perdeu seu mediador e as reivindicações acabam esbarrando na coordenadora do núcleo técnico, Leany Lemos. Servidora de carreira do Senado, onde acumulou traquejo político, Leany atende a todos com atenção, mas rejeita a maioria das exigências.
Leite sabe que por trás da rebeldia dos prefeitos não há apenas preocupações econômicas, mas também temor de prejuízos eleitorais. Na Fronteira Oeste, por exemplo, os mais agressivos nos ataques à política de distanciamento social são Rossano Gonçalves (PL), de São Gabriel, e Ronnie Mello (PP), de Uruguaiana, aspirantes à reeleição. Além de imantarem as queixas dos comerciantes locais, eles enfrentam cobranças dos futuros adversários nas urnas. Para dar uma satisfação aos eleitores, acabam optando pelo enfrentamento com o governo do Estado.
Diante desse cenário, Leite tenta não parecer intransigente, mas evita a todo custo mudar o sistema de distanciamento controlado a partir de pressões políticas. Nas discussões internas do gabinete de crise, sempre há uma justificativa técnica para eventuais revisões. Foi assim na terça-feira, quando aceitou devolver as regiões Central e das Missões à bandeira laranja. O recuo só ocorreu após ampliação dos leitos de UTI e uma reavaliação da estabilidade nas hospitalizações. Para a Fronteira Oeste, nem mesmo a promessa de mais oito vagas para pacientes graves suficientes foi suficiente para atenuar a quarentena.