BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, disse nesta segunda-feira (4) que o STF (Supremo Tribunal Federal) ultrapassou limites ao tomar decisões como a suspensão da nomeação de Alexandre Ramagem para a diretoria-geral da Polícia Federal e ao barrar a ordem do governo brasileiro para expulsar diplomatas venezuelanos aliados a Nicolás Maduro do Brasil.
"Julgo que cada um tem que navegar dentro dos limites da sua responsabilidade", disse Mourão em entrevista à Rádio Gaúcha.
"Os casos mais recentes, que foi da nomeação do diretor-geral da Polícia Federal, a questão dos diplomatas venezuelanos eram decisões que são do presidente da República. É responsabilidade dele, é decisão dele escolher seus auxiliares, assim como chefe de Estado ele é o responsável pela política externa do país", disse o general.
Para Mourão, "os Poderes têm que buscar se harmonizar mais e entender o limite da responsabilidade da cada um". Ele disse também entender que "hoje existe uma questão de disputa de poder entre os diferentes Poderes, existe uma pressão muito grande em cima do Poder Executivo".
No domingo (3), a Folha de S.Paulo mostrou que a ala fardada do governo, embora costume atuar como bombeira diante de atitudes mais extremadas de Bolsonaro, deu sinais de incômodo com decisões do Supremo.
Não há uma unanimidade, e o comandante do Exército, Edson Pujol, tem se mostrado refratário às atitudes do presidente.
Mas outros generais da alta cúpula ainda mantêm um maior alinhamento ao Planalto e têm maior proximidade com o antecessor de Pujol, general Eduardo Villas Bôas, conselheiro de Bolsonaro.
Nas últimas semanas, o tribunal conferiu uma série de derrotas ao Planalto, a maior delas a liminar do ministro Alexandre de Moraes que impediu que um amigo da família, o delegado Alexandre Ramagem, assumisse o comando da Polícia Federal.
Também incomodou o presidente a redução de prazo dada pelo ministro Celso de Mello, decano do STF, de 60 para 5 dias para que o ex-ministro da Justiça Sergio Moro fosse ouvido sobre acusações feitas contra Bolsonaro. O depoimento à Polícia Federal ocorreu neste sábado (2).
Militares endossam a visão do chefe do Poder Executivo de que há um exagero na corte e que as visões políticas de alguns ministros, como Celso de Mello, não podem comprometer suas decisões.
Neste sábado (2), Bolsonaro ficou especialmente irritado com uma decisão do ministro Luís Roberto Barroso, do STF. O magistrado barrou a ordem do governo brasileiro para expulsar diplomatas venezuelanos aliados a Nicolás Maduro do Brasil.
"A questão da decisão do ministro Alexandre de Moraes, grande parte dela baseada na decisão do ministro Celso de Mello em relação ao inquérito que está correndo aí por solicitação da Procuradoria-Geral da República. Na minha visão, julgo que, volto a dizer, é responsabilidade do presidente da República escolher seus auxiliares. Quer a gente goste ou não", afirmou.
Nesta segunda, Bolsonaro nomeou Rolando Alexandre de Souza para o cargo de diretor-geral da Polícia Federal, posto que seria ocupado por Ramagem, amigo da família Bolsonaro.
Mourão afirmou não conhecer Rolando.
"Só sei que ele estava atualmente lá na Agência Brasileira de Inteligência, que ele é ligado ao delegado Ramagem, que era a escolha inicial do presidente. No mais, não tenho nenhum conhecimento, até porque meus contatos com a Polícia Federal são extremamente limitados."
Hamilton Mourão disse não ver motivos para preocupação com eventual instabilidade diante das declarações de Bolsonaro no domingo, quando disse estar junto com as Forças Armadas "ao lado do povo" e deu recados intimidatórios.
"Peço a Deus que não tenhamos problemas essa semana. Chegamos no limite, não tem mais conversa. Daqui pra frente, não só exigiremos, faremos cumprir a Constituição, ela será cumprida a qualquer preço, e ela tem dupla mão", afirmou Bolsonaro, em declaração transmitida ao vivo no domingo em rede social.
Um dia após ter se encontrado com os chefes de Exército, Marinha e Aeronáutica, o presidente afirmou que "temos o povo ao nosso lado, nós temos as Forças Armadas ao lado do povo, pela lei, pela ordem, pela democracia e pela liberdade".
Nesta segunda, minutos após a entrevista, em rede social, manifestou-se sobre o episódio.
"Neste momento em que se procura turvar o ambiente nacional pela discórdia e intriga, é importante deixar claro, como o presidente Jair Bolsonaro declarou ontem [domingo], que ninguém irá descumprir a Constituição. Agora, cada Poder tem seus limites e responsabilidades", escreveu.
À rádio, Mourão também se referiu ao ato de domingo.
"Naquela manifestação, assim como tinha gente que pedia ou propugna aí por ideias mais radicais que, no final das contas, não para em pé, tinhuma uma maioria ali que estava pura e simplesmente para apoiar o governo do presidente Bolsonaro", declarou.
O vice-presidente disse que Bolsonaro "tem um compromisso com a democracia, tem um compromisso que ele jurou defender a Constituição e ele não vai ultrapassar esses limites e ele deixa isso bem claro".
"A gente tem que se balizar muito mais pelas ações que, muitas vezes, palavras que são ditas em algum momento de maior exaltação".
Mourão ponderou ainda que Bolsonaro vive "a solidão do comando", já que tem que tomar decisões solitárias diariamente.
"Então, esta é uma realidade. Pediu, você tem que arcar com as consequências, com a responsabilidade e com o peso de dirigir e governar um país das características e da amplitude do Brasil."