A deputada estadual de São Paulo Janaina Paschoal (PSL), que apoiou a eleição de Jair Bolsonaro e quase foi sua candidata a vice, defendeu a renúncia do presidente nesta segunda-feira (18), no Ao Vivo em Casa, série de lives (transmissões ao vivo) do jornal Folha de S.Paulo. Uma das autoras do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), a professora de direito e advogada é hoje crítica a Bolsonaro, mas diz não ver motivos para um processo de impedimento dele. Ela atacou, contudo, o que chama de loucura e burrice do governo.
— As pessoas mais ponderadas, mais racionais, que o apoiaram e ainda torcem por ele [Bolsonaro], e eu me coloco entre essas pessoas, ficam numa situação difícil para defender. Porque é muita loucura. Quando é que o país vai ter um pouco de estabilidade, de tranquilidade? Mantendo esse comportamento, ele não tem condição [de permanecer]. Ele podia renunciar, né? Ele insiste nos erros — afirmou a parlamentar.
Janaina contestou a versão de que o excesso de polêmicas e recuos de Bolsonaro seja uma estratégia política.
— É muita burrice, não dá para ter estratégia nisso aí, entendeu? Não consigo ver as Forças Armadas dando respaldo para algo tão grotesco. É muita ambiguidade. Tem quem diga que é para ele estar sempre em evidência e com isso a esquerda nem sequer aparece. Mas todo dia cansa. Ninguém aguenta mais. Coloquei todas as esperanças e expectativas no presidente. Foi muito trabalho para tirar o PT, para elegê-lo. É triste ver que uma pessoa que chegou aonde chegou, a duras penas, está jogando essa oportunidade no lixo. Porque não consegue ter humildade de ouvir, de recuar um pouquinho em alguns posicionamentos. Talvez de fazer uma terapia — disse.
A parlamentar minimizou o impacto das revelações feitas pelo empresário Paulo Marinho à Folha de S.Paulo. Para ela, a afirmação de que um delegado da Polícia Federal vazou ao senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) a informação de que seria deflagrada uma operação contra Fabrício Queiroz, seu ex-assessor, deve ser investigada, mas é, por enquanto, um elemento frágil aos olhos da Justiça.
A deputada também demonstrou preocupação com a defesa que políticos, de esquerda e de direita, passaram a fazer de uma anulação da eleição de 2018 com base nas revelações de Marinho. Se, no impeachment e na renúncia, quem assume a presidência é o vice-presidente, no caso de anulação da eleição há dois caminhos: a realização de novo pleito ou a vitória do segundo colocado, no caso Fernando Haddad (PT).
— Não consigo ver, sob o ponto de vista do direito eleitoral, uma relação de causa e efeito [entre a entrevista e a anulação da eleição]. [...] Depois de todo o meu trabalho? Vão criar um caminho forçado para entregar a Presidência para o PT? Tudo que eu não quero na vida é o PT no governo — disse.
A entrevista de Marinho foi mais um capítulo em meio ao inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) que investiga se Bolsonaro interveio na Polícia Federal para proteger sua família. A investigação foi aberta após as acusações do ex-ministro Sergio Moro. Para Janaina, porém, não há crime de Bolsonaro nessa questão.
— Nós não temos indício nenhum de uma interferência real na Polícia Federal. [...] No direito, a gente não pune intenção — afirmou.
Sem apoiar integralmente o governo, mas ainda torcendo para que a gestão de Bolsonaro dê certo, Janaina diz que se sente " muito isolada" — outros ex-aliados de Bolsonaro hoje fazem oposição declarada.
— Não estou batendo panela na varanda. Até porque quem está batendo panela é o povo que me chama de golpista [por ter atuado no impeachment de Dilma]. Não consigo ver como eles [Bolsonaros] pensam em reeleição. Com essa dinâmica, eu não consigo ver. É que infelizmente faltam quadros alternativos. Talvez por isso eles achem que têm chance.
Indagada sobre a pressão que seu partido, o PSL, faz para que ela seja candidata à Presidência em 2022, Janaina desconversou, insistindo no discurso de que "não é o momento" de pensar em sucessão.