Após semanas de rusgas com o presidente Jair Bolsonaro sobre a necessidade de manter o fechamento do comércio para frear o avanço do coronavírus, o governador de São Paulo, João Doria, ensaiou uma reaproximação ao governo federal na manhã desta quarta-feira (1), mas pediu coerência. Doria elogiou o discurso feito em rede nacional pelo presidente na noite de terça-feira (31), tido como mais cometido.
— Eu, ontem (terça-feira), como cidadão, como brasileiro e como governador, fiquei feliz de assistir um presidente da República mais moderado e com bom senso, colocando uma mensagem equilibrada à população brasileira — afirmou em entrevista à imprensa no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista.
— Mas amanheci preocupado, vendo o mesmo presidente da República numa postagem agredindo os governadores. Em qual presidente da República devemos confiar? Aquele que ontem fez uma mensagem ponderada no seu pronunciamento, ou no que menos de 12 hora depois faz uma agressão em postagem aos governadores. É preciso coerência, presidente — emendou logo em seguida.
Na manhã desta quarta, Bolsonaro publicou um vídeo que diz que há desabastecimento no Ceasa de Belo Horizonte (já desmentido pela instituição) e escreveu três frases sobre o assunto no Twitter.
"Não é um desentendimento entre o Presidente e ALGUNS governadores e ALGUNS prefeitos.." disse o presidente. "São fatos e realidades que devem ser mostradas", prosseguiu. "Depois da destruição não interessa mostrar culpados", concluiu.
A publicação já foi apagada de suas redes sociais.
— Não caia na tentação de seguir a orientação daqueles que do seu gabinete do ódio propõem o confronto, o combate, a briga, a dissidência com governadores, com parlamentares, com o judiciário, com jornalistas, com meios de comunicação, ou contra qualquer outro que se oponha ou que formule críticas ao senhor — disse Doria para Bolsonaro, horas depois.
— Por enquanto, prefiro levar em consideração sua manifestação de ontem (terça-feira) e desconsiderar sua manifestação de hoje (quarta-feira) pela manhã — concluiu Doria.
O governador afirmou que não há desabastecimento no Estado, nem perspectiva, e que os mercados e a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp, entreposto comercial) têm funcionado normalmente.
O fechamento do comércio decretado pelo governador vale, inicialmente, até 7 de abril. Doria afirmou que ainda não sabe se haverá prorrogação, e que essa medida só será anunciada na véspera, em 6 de abril.