O vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, defendeu a busca de consenso no combate à pandemia do coronavírus e afirmou que há falta de coordenação nas ações finais, numa referência à crise entre governadores e o presidente, Jair Bolsonaro. Também destacou, em entrevista à Folha de S. Paulo, divulgada neste final de semana, que é preciso encontrar um modelo de isolamento que não seja "oito ou oitenta".
Sobre Bolsonaro ter chamado, em pronunciamento na TV, a covid-19 de "gripezinha, resfriadinho", Mourão disse se tratar do "linguajar" do presidente e de uma forma de passar confiança à população. Também disse que Bolsonaro, com 65 anos, não mudará o jeito. A respeito da relação do presidente com a mídia, afirmou acreditar que há jornalistas que falam de Bolsonaro com raiva, e reconheceu que a imprensa está fazendo "o papel dela e está informando".
Mourão garantiu estar seguindo os protocolos do Ministério da Saúde para se precaver da infecção e explicou não ter tido sintomas que justificassem fazer o teste. Questionado sobre se Bolsonaro não deveria apresentar o resultado do exame, Mourão destacou o valor da palavra no meio militar. Disse que é preciso "confiar na palavra do presidente" e que seria o "pior dos mundos" ele dizer que o resultado foi negativo e depois aparecer um teste positivo.
Ao comentar a campanha do governo "O Brasil não pode parar", o general disse concordar que é hora de áreas técnicas de medicina e de economia estudarem que atividades podem ser retomadas de forma progressiva. É nesse ponto que ele destacou que a solução não pode ser "oito ou oitenta" e que o governo nunca deixou de se preocupar com a saúde da população.
Na estratégia de combate à pandemia, Mourão explicou a necessidade três coisas: planejamento centralizado, determinação de objetivos e clareza na execução destes. Ressaltou que, na estrutura militar, a ordem é dada "e a turma obedece", mas na política, não. Por isso, a importância de busca de consenso.
Questionado sobre formas de isolamento, defendeu que o vertical tem lógica quando é buscado o retorno de atividades econômicas. Sobre a volta das aulas, destacou que em áreas pobres as crianças ficam sem alimentação por não irem à escola. Em relação à imagem do Brasil ser prejudicada por tentar ir na contramão das orientações mundias de isolamento, Mourão disse que ainda é preciso ver como o vírus vai se comportar no clima quente do país.
Sobre ações do governo, o general destacou o pacote de R$ 147 bilhões, mais os R$ 88 bilhões para Estados e municípios e os R$ 600 para os autônomos.