Em Brasília, Jair Bolsonaro decidiu reduzir a tradicional Biblioteca da Presidência da República para dar espaço a um gabinete para a primeira-dama, Michelle, e sua equipe do projeto Pátria Voluntária. É especulado que o acervo, com mais de 31 mil itens, tenha sua área cortada pela metade. As informações são da colunista Bela Megale, do jornal O Globo.
Oficialmente intitulado Programa Nacional de Incentivo ao Voluntariado, a iniciativa conduzida pela primeira-dama foi fundada em julho com o objetivo de promover o trabalho voluntário no país. Ainda segundo O Globo, está é a segunda reforma feita pelo governo federal em prol do projeto de Michelle Bolsonaro. Há sete meses, o governo já teria investido R$ 330 mil para reformar espaços no Ministério da Cidadania, antiga casa das servidoras do Pátria Voluntária — mais tarde, o projeto passou para a Casa Civil, por isso foi necessária a mudança de endereço.
Localizada em um prédio anexo ao Palácio do Planalto, a Biblioteca foi fundada durante a presidência de Wenceslau Brás (1914-1918), sendo transferida do Rio de Janeiro para Brasília com o restante do governo nos anos 1950. Ela abriga em suas estantes monografias, periódicos e normas inferiores (portarias, atos, circulares entre outros). Segundo o site da instituição, a biblioteca é especializada em Ciências Sociais, com ênfase em Direito. O catálogo pode ser consultado online.
Após a reação negativa à alteração, Jair Bolsonaro comentou o caso na saída do Palácio da Alvorada no sábado (15):
— Minha esposa faz um trabalho para as pessoas deficientes de graça. Arranjei um lugar para ela trabalhar lá na Presidência porque é melhor, fica mais perto dos ministros para despachar. E a biblioteca teve uma pequena diminuição — afirmou ao Globo. — Estão descendo a lenha porque a biblioteca vai diminuir. Em vez de elogiar a primeira-dama ficam criticando. Quem age dessa maneira merece uma outra banana.
Em seguida, o presidente finalizou sua fala com o gesto de uma banana.
Nas redes sociais, muitos perfis repercutiram um vídeo em que os livros da Biblioteca são vistos empilhados nos corredores do Anexo, por causa das obras.
Já a Secretaria-Geral da Presidência emitiu uma nota, publicada pelo portal G1, em que defende as reformas e afirma que a instituição está em um processo de modernização. Leia o texto na íntegra:
"A Biblioteca da Presidência da República, inclusive em razão de sua relevância institucional, vem passando por um permanente processo de modernização. Nesse sentido, ressalta-se que os acervos presidenciais, como discursos e fotografias, já se encontram em formato digital, acessível pela página biblioteca.presidencia.gov.br, contendo todo material histórico presidencial.
Essa digitalização do acervo de ex-presidentes da República foi a primeira etapa, já concluída e institucionalizada, do processo de modernização institucional. Na sequência, pretende-se, em parceria com a Imprensa Nacional (IN), concluir a digitalização de todos os diários oficiais já circulados, o que ensejaria, em um segundo momento, a possibilidade de deslocamento do respectivo acervo da PR para compor o Museu da IN.
No que se refere às recentes alterações do espaço físico destinado à Biblioteca da Presidência da República, é importante registrar, primeiramente, que 100% do acervo físico será preservado, em condições técnicas adequadas.
Ainda a esse respeito, cabe esclarecer que havia em torno de 40% de espaço não utilizado nas estantes da Biblioteca, de forma que , mesmo com as alterações promovidas, ainda restará margem para ampliação do acervo.
Ademais, havia mais de 100 metros quadrados destinados à área administrativa da biblioteca, que agora será ajustado à real necessidade dessas atividades.
A intenção da Administração da PR é seguir modernizando a Biblioteca, inclusive com a inserção de novas tecnologias que permitam maior acesso da população e dos servidores.
Por outro lado, essas mudanças também visam otimizar os espaços físicos da PR, permitindo que outras atividades relevantes possam ser desempenhadas pelos seus servidores."