Uma das mais prestigiadas revistas científicas do mundo, a The Lancet criticou, em editorial publicado na internet nesta sexta-feira (14), o programa de incentivo à abstinência sexual da ministra da Família, da Mulher e dos Direitos Humanos, Damares Alves.
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) também se posicionou contra, no fim de janeiro. O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse que a ação não pode ser a principal. Damares afirma que o governo não deixará de oferecer outros métodos contraceptivos, mas especialistas pontuam que, historicamente, focar na abstinência significa deixar de lado outros métodos.
Os editores da The Lancet afirmam que políticas públicas de incentivo para adiar o início da vida sexual são "amplamente reconhecidas como completamente ineficazes" e que a Comissão para a Saúde do Adolescente de 2016 da revista concluiu que a estratégia não é recomendada.
A The Lancet diz que é preciso combater os índices de gravidez na adolescência, mas que a proposta do governo Jair Bolsonaro é "inapropriada" e "ineficaz".
"Adolescentes tendem a não acessar serviços de saúde com regularidade e precisam de uma abordagem preventiva multifatorial, com forte ênfase em uma educação sexual compreensiva de alta qualidade que comece cedo", dizem os cientistas.
A The Lancet cita que, de 2000 para 2017, houve queda de 36% nos índices de bebês nascidos de mães com idade entre 15 e 19 anos, mas que, mesmo assim, a taxa é alta em comparação à média global: no Brasil, 68,4 a cada mil adolescentes estão grávidas, enquanto que a média mundial é de 46 e, na América Latina, é de 65,5.
A estratégia de Damares Alves é aplicada em Uganda e já foi utilizada nos Estados Unidos, como mostrou GaúchaZH no fim de janeiro.