Encabeçado pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos e com data de início da primeira campanha marcada para 3 de fevereiro, o novo programa do governo federal para prevenção da gravidez na adolescência tem causado polêmica devido ao termo "abstinência sexual". Em entrevista ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, nesta sexta-feira (24), a ministra Damares Alves explicou detalhes sobre o objetivo do projeto e como será aplicado na prática.
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Segundo ela, a polêmica foi gerada porque as pessoas acreditam que o programa tenha cunho religioso, já que ela é pastora. Em relação ao termo "abstinência", Damares acredita que o intuito seja desqualificar a intenção do governo.
— Queremos conversar com os adolescentes do Brasil. Na hora de apresentar os métodos anticonceptivos, nós queremos adicionar mais um. E é somente isso. Vamos continuar apresentando o anticoncepcional, a camisinha, os métodos de prevenção às doenças sexualmente transmissíveis. A gente só quer conversar com o adolescente, porque não se conversa sobre isso, queremos acrescentar um diálogo — explicou.
A ministra destacou que não haverá imposição nenhuma aos jovens, mas que será conversado sobre a possibilidade de adiar o início da relação. Além disso, citou dados sobre a idade média em que os adolescentes começam a ter relações sexuais — 12 anos para meninos e 13 para meninas —, sobre a gravidez precoce e casamentos infantis no Brasil.
Damares questionou se a depressão entre os adolescentes não estaria relacionada à vida sexual e comentou o uso que considera exagerado da pílula do dia seguinte, que chamou de "bomba de hormônios":
— O sexo não é só corpo, exige uma maturidade emocional. Existe uma pressão cultural que quanto mais meninas você ficar ou quanto mais meninos você ficar, você é mais bonito, mais amado, mais aceito, nós só queremos conversar com eles (e dizer) que não ficar não é careta, que não ficar também é uma boa opção. Que mal eu estou fazendo a um adolescente em conversar com ele sobre responsabilidade e sobre saúde?
Questionada sobre a abordagem das campanhas, a ministra citou outros países que foram estudados por aplicarem medidas semelhantes. No Brasil, o programa será aplicado a partir de conversas e debates em sala de aula, com o intuito de fazer o adolescente refletir sobre responsabilidade e afeto.
— O público-alvo está na escola, a conversa tem que estar na escola também, na aula de biologia, não na televisão — disse Damares.
A ministra reforçou que o tema "abstinência sexual" não será utilizado na campanha. E, ao falar sobre a erotização de crianças e adolescentes, lamentou a aceitação da sociedade diante do assunto e a ausência de conversas entre pais e filhos, afirmando que é dever do Estado auxiliar.
— Não quero interferir na relação da família, eu quero simplesmente dizer que estamos diante de uma questão de saúde pública. E nós temos que apresentar opções e soluções — finalizou.