A informação de que o governo Jair Bolsonaro estuda criar uma campanha que defende a abstinência sexual como prevenção da gravidez precoce, por intermédio do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, tem causado polêmica nos últimos dias. De acordo com o jornal O Globo, a pasta teria convidado apenas apoiadores da medida para um evento realizado em dezembro, na Câmara dos Deputados, sobre gravidez na adolescência.
Em entrevista ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, nesta segunda-feira (6), a secretária nacional da Família, Angela Gandra Martins, explicou que o novo programa é uma iniciativa para conscientizar os jovens sobre sexualidade, para que eles e seus pais tenham mais responsabilidade em relação a este assunto.
— Uma relação (sexual) não é uma mera biologia, é algo que vai além, que envolve afetividade, que envolve a vida emocional. É preciso saber lidar com isso para não se frustrar e para não ter que enfrentar consequências para as quais eles ainda estão despreparados.
Questionada sobre uma possível manifestação que citasse abstinência sexual, a secretária afirmou que não existe essa colocação, sendo o único objetivo do programa fazer com que os jovens tenham responsabilidade e escolham o momento certo. Além disso, ressaltou que é preciso haver envolvimento familiar sem omissão ou vergonha, para que os adolescentes conversem com os pais sobre o tema.
— Muitas vezes, quando chega a gravidez, os pais se assustam e não querem dar apoio. Queremos também que os pais saibam apoiar uma filha que engravida, um dos nossos desejos é o fortalecimento dos vínculos familiares.
Angela ressaltou que o governo está começando os estudos para mostrar uma nova visão sobre o assunto. Segundo ela, o trabalho está sendo realizado com base em iniciativas que deram certo em países como Chile, Estados Unidos e México.
Ouça a entrevista:
De acordo com a secretária, programas com aulas e explicações sobre afetividade apresentaram bons resultados nesses países, inclusive com a redução do índice de gravidez na adolescência.
— Temos uma preocupação com a estabilidade e felicidade do ser humano. Nós vamos impor e dizer "isso é o melhor para vocês, então façam isso", não, nós queremos que o ser humano se autodetermine, que seja responsável, que conheça sua própria estrutura — disse Angela, enfatizando que não há intenção de dar cunho religioso ou de imposição durante a campanha.
Segundo Angela, o governo acredita que o programa terá um bom efeito na diminuição da gravidez na adolescência. A secretária também contou que existe uma preocupação com a manipulação desses jovens que, às vezes, iniciam a vida sexual por pressão dos amigos. Ela esclareceu que a frase "eu escolhi esperar" não inspira a campanha.
— Foi uma demonstração dos programas. Não temos um slogan ainda nem estamos usando o termo abstinência sexual. Estamos querendo uma conscientização sobre a sexualidade humana tanto para pais quanto para filhos.