Deputado estadual de oposição ao regime militar, líder do MDB gaúcho, Pedro Simon coordenou, em meados dos anos 1970, uma comissão que tinha o objetivo de trazer para o Rio Grande do Sul o terceiro polo petroquímico. O emedebista ajudou a reunir diferentes forças da sociedade civil e, dentre suas tarefas, esteve a articulação política com lideranças regionais da Arena.
Quando o presidente Ernesto Geisel concordou em trazer o empreendimento ao Estado, fez um aviso: o terceiro polo deveria ser da Bahia, e o Rio Grande do Sul ficaria com o quarto. O governador Sinval Guazelli (Arena) agendou visita do presidente para o anúncio oficial. Simon ficou com um pé atrás, pensou que a espera indefinida poderia resultar em mudança de planos futuros e frustração. Montou-se, então, uma estratégia para tentar sensibilizar Geisel. Um público definido por Simon como “mar de gente” foi levado até o ato político em Santana do Livramento. A ideia era, diante daquela multidão, apelar a Geisel, usando argumentos técnicos elaborados à época e a expectativa popular como trunfo para fazê-lo passar o Rio Grande do Sul à frente da Bahia. Ponto delicado era definir quem usaria a palavra para tentar emparedar o ditador que ocupava o Palácio do Planalto.
– O Guazelli olhou, pensou, e anunciou: ‘Em nome do Rio Grande do Sul, vai falar o líder da oposição, Pedro Simon.’ Eu falei numa boa, claro, disse que seria um fato histórico e que todos nós deveríamos ao Geisel a vinda do terceiro polo. Ele acabou concordando. Foi fantástico. Foi uma demonstração de como fazíamos oposição – diz Simon.
O polo, hoje, se aproxima dos 40 anos de operação em Triunfo. É referência industrial e de geração de tecnologia. O papel de ser líder da resistência democrática e, paralelamente, dialogar com a Arena, em tempos de supressão de liberdades, prisões e tortura, não era tarefa fácil.
– A principal característica do Simon é a conciliação. O MDB era o partido da resistência e, ao mesmo tempo, da legalidade. Isso muitas vezes era confundido com submissão. A esquerda acusava o MDB e o Simon de serem conciliadores com a ditadura. E a direita os acusava de serem conspiradores – recorda o ex-deputado federal Ibsen Pinheiro, que concedeu a entrevista poucos dias antes de sua morte, ocorrida no último dia 24 de janeiro.
Ícone da política gaúcha, Simon completa 90 anos nesta sexta-feira, 31 de janeiro de 2020, sendo mais de 60 deles dedicados à vida pública. Nascido em Caxias do Sul, filho de imigrantes libaneses, ingressou no velho PTB e se elegeu vereador em 1958.
A entrada no MDB ocorreu no início da ditadura, quando o Ato Institucional Número 2 instituiu o bipartidarismo. Foi deputado estadual e, em 1978, se elegeu senador, período em que passou a ganhar projeção nacional ao ter protagonismo na campanha da anistia e no movimento das Diretas Já, que começou em Porto Alegre, na Esquina Democrática.
Nesta época, Simon já era o líder máximo do MDB gaúcho, atuando como recrutador de lideranças que viriam a desempenhar funções relevantes: José Fogaça, Luiz Roberto Ponte e o próprio Ibsen, entre outros.
– Entrei no MDB, em 1986, por causa do Simon. Surgiu a Constituinte e o pessoal do Sinduscon (sindicato da indústria da construção civil) achou que eu poderia representar um pensamento liberal. O MDB, na época, tinha muito economista que chamavam de desenvolvimentista, keynesiano. Eu não tinha afinidade nenhuma com isso, mas acabei escolhendo o MDB pela conotação de decência que o Simon representava – conta Ponte.
O discurso de despedida da política ocorreu no Senado, em 10 de dezembro de 2014. O velho Simon se aposentou dos cargos públicos, mas não botou o pijama. Aos 90 anos, segue queimando lenha, respirando política em tempo integral, insistindo na tese de que o Rio Grande do Sul precisa fazer um grande movimento de encontro de contas com o governo federal. O Estado tem a dívida com a União. E o governo federal não paga o ressarcimento da Lei Kandir. Que se façam os cálculos e zerem os passivos, prega ele.
– O que me deixa dolorido é que se formou um consenso que a dívida não tem solução. É uma grande tristeza que tenho. Muita gente diz que é bobagem, sugere que eu esqueça, mas eu me nego a esquecer. Essa compensação de contas é o primeiro passo para resolver a crise do RS. O que eu ainda puder fazer e debater sobre isso, vou fazer.