A deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP) afirmou nesta quarta-feira (4), durante depoimento na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que investiga a propagação de fake news durante as eleições de 2018, que o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) quis criar uma "Abin paralela" no Palácio do Planalto, com grampos de telefônicos e criação de dossiês.
— Houve uma tentativa, no início, de que o Carlos tentou montar uma "Abin paralela" para que houvesse grampo de celular, dossiês feitos. E isso teria criado um atrito. E o nome foi esse, uma Abin paralela — afirmou a deputada durante sessão da CPMI, revelando a comparação com a atuação da agência brasileira que investiga ameaças em potencial no país.
A parlamentar foi ouvida nesta terça-feira (3) pelo colegiado que investiga ataques cibernéticos e o uso de perfis falsos para influenciar o resultado das eleições passadas, vencidas por Jair Bolsonaro.
A menção à "Abin paralela" foi feita pela deputada depois que a relatora da comissão, a deputada Lídice da Mata (PSB-BA), questionou a convidada sobre quais caminhos seguir na investigação.
Joice afirmou que a informação da suposta agência informal foi dada pelo ex-ministro Gustavo Bebianno, homem forte de Bolsonaro na campanha que deixou o cargo em fevereiro, após fritura pública pelo Planalto.
— Acho importante também ouvir o ex-ministro Bebianno, que acompanhou muito de perto o modus operandi que se desenrolava dentro desse núcleo de comunicação. Inclusive ele me deu uma informação, e eu estou dando essa informação porque ele falou claramente, com testemunha, e disse que confirmaria à CPI — disse.
Depois, a deputada afirmou que o general Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) também sabia da iniciativa do vereador. Ela declarou ainda que a indicação do diretor-geral da Abin, Alexandre Ramagem Rodrigues, foi feita por Carlos.
— Eu disse que a indicação do comandante da Abin é do Carlos Bolsonaro — afirmou.
Bebianno e o Planalto ainda não se manifestaram sobre as declarações de Joice.
Lídice chamou a iniciativa de inconstitucional.
— Queria chamar a atenção para a gravidade deste fato, que é inconstitucional e criminoso — afirmou.
Joice também detalhou o que seria uma atuação sistemática para a disseminação de fake news, inclusive com o uso de dinheiro público. Segundo ela, quatro assessores eram utilizados no "gabinete do ódio" e afirmou que a soma dos salários deles e a estrutura empregada gastariam R$ 491 mil em dinheiro público por ano.
— As instruções são passadas por um grupo, um grupo do "gabinete do ódio" que tantos dizem que não existem. Vocês vão ver prints de conversas. As mensagens são passadas principalmente pelo Eduardo (Bolsonaro) e assessores dele — disse.
Segundo Joice, Carlos e o deputado federal Eduardo são os mentores do grupo.
— Eduardo está envolvido e é um dos líderes desse grupo que chamamos de milícia digital.
E reafirmou:
— Carlos e Eduardo são os cabeças, os mentores — disse ela em outro momento.
Questionado se tinha medo da CPMI, o presidente Bolsonaro negou e chamou Joice de idiota.
— Chance zero. O "gabinete do ódio" inventaram e alguns idiotas acreditaram. Outros idiotas vão até prestar depoimento como tem um idiota prestando depoimento a esta hora lá — afirmou ele.
A CPMI teve embates entre deputados da ala bolsonarista do PSL e parlamentares da oposição e da ala ligada ao presidente da sigla, o deputado Luciano Bivar (PE). A deputada Bia Kicis (PSL-DF) chamou as acusações de Joice de "mimimi".
— Quem está escrevendo "traidora" nas redes agora não são robôs, são indivíduos, e se a deputada não gosta disso, paciência, mas é o que o publico acha dela — afirmou.
O deputado Alexandre Frota (PSDB-SP), ex-parlamentar do PSL, chegou a levantar um bolo de aniversário.
— Para comemorar um ano do caso Queiroz — afirmou, em referência à investigação sobre o ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (RJ), Fabrício Queiroz. Frota recebeu vaias e aplausos no plenário.