Depois de quatro anos, os sindicatos de servidores voltaram a mostrar força, na tarde desta quinta-feira (14), mobilizando milhares de funcionários públicos na Praça da Matriz, em frente ao Palácio Piratini, em Porto Alegre, para protestar contra o pacote do governo do Estado. Com participação majoritária de educadores ligados ao Sindicato dos Professores do Estado (Cpers-Sindicato) e servidores da segurança pública, o ato relembrou protesto de 2015 e foi a primeira reação unificada de sindicatos contra os projetos apresentados por Leite que impactam a carreira e as aposentadorias do funcionalismo.
— Esse é o maior ataque à carreira dos professores. É para acabar com a carreira. Nem quando a Yeda (Crusius, do PSDB), nem quando o (Antônio) Britto (do MDB) tentaram mudar o plano de carreira, foi tão forte. E tem a novidade do confisco dos aposentados — avaliou Helenir Schürer, presidente do Cpers.
Representante da maior categoria de servidores estaduais, coube à presidente do Cpers abrir e encerrar o ato que, por duas horas, fez ecoar pelo Palácio Piratini as críticas de mais de 20 representantes de sindicatos e associações. Para dar um tom épico ao ato, um coral de professores aposentados cantou Bella Ciao, um dos hinos da resistência italiana contra o fascismo de Benito Mussolini durante a Segunda Guerra Mundial, música que foi reinserida na cultura pop pela série espanhola La Casa de Papel.
Contudo, o alvo da manifestação não ouviu nem as músicas, nem as palavras de ordem. Após apresentar as medidas, Leite viajou, na noite de quarta-feira (13), para os Estados Unidos, onde fica até domingo (18), para um ciclo de palestras sobre gestão pública. Do Centro Administrativo Fernando Ferrari (CAFF), há cerca de 1 km, o governador em exercício, Ranolfo Vieira Jr., também não assistiu ao ato.
— Quem apresenta um pacote desta envergadura, no mínimo, tem que ter coragem suficiente para responder os servidores que estão aqui — disse a presidente do Cpers em relação à viagem do governador.
O presidente da Federação Sindical dos Servidores Públicos do Estado (Fessergs), Sérgio Arnoud, diz que ainda é preciso construir uma unidade entre as principais forças de representação dos servidores para garantir o sucesso político da mobilização.
— Estamos costurando uma unidade. Queremos que o próximo ato tenha o dobro de manifestantes. Naquela ocasião conseguindo reunir também os servidores militares, que hoje não estavam presentes, porque estão negociando (com o governo) — disse Arnoud, endossando a tese de que se trata das medidas mais duras da história recente do Estado:
— É o mais avassalador ataque já sofrido pelo serviço público gaúcho. Atraso e parcelamento são muito graves. Mas, neste momento, além de tudo isso, se aponta para confisco salarial e aumento do desconto para aposentadoria — finalizou.
Próximo do fim do ato, enquanto uma forte chuva lavava o Centro da cidade, o representante dos fiscais agropecuários projetava, no microfone, a greve dos servidores de nível superior e o impacto sobre os abates de animais. Os técnicos de nível superior aprovaram indicativo de greve, nesta quarta (14), e votam o início da paralisação no dia 26.
— Como em 2015, quando tivemos um grande ato, o objetivo é parar toda a fiscalização agropecuária, porque o pacote acaba com o serviço público — disse Antonio Augusto Medeiros, presidente da Associação dos Fiscais Agropecuários.