Reconhecido por integrantes do partido como o diretório estadual mais colérico do país, o PSL gaúcho rompeu de vez com o anúncio de Jair Bolsonaro de fundar uma nova legenda, chamada Aliança pelo Brasil. Cinco dos sete deputados estaduais e federais da sigla pretendem migrar para o grupo do presidente, colocando fim a uma série de brigas que começaram no ano passado, assim que as urnas foram fechadas.
Na Câmara, somente Nereu Crispim deve permanecer no PSL. Isolado, será abandonado pelos ex-aliados Bibo Nunes e Ubiratan Sanderson, que pretendem correr para o partido de Bolsonaro. Mais vacilante, Marcelo Brum, suplente do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, tem planos de seguir o presidente, mas espera a certeza de que poderá manter o mandato.
— Em princípio, quero sair. Mas tenho de ver a parte jurídica — disse Brum.
Praticamente anônimo na própria bancada, Brum protagonizou uma confusão na guerra das listas, como ficou conhecida a batalha pelo comando do PSL, em outubro. Inicialmente, ele havia assinado o documento pela manutenção do Delegado Waldir (GO) na liderança da sigla. Evangélico, chegou a pedir a palavra para fazer uma oração em um almoço da ala ligada ao presidente do PSL, Luciano Bivar, desafeto de Bolsonaro. Depois, surpreendeu o grupo ao incluir seu nome em nova relação, dessa vez colocando Eduardo Bolsonaro (SP) no cargo.
A defecção do parlamentar foi um dos capítulos da briga interna. Na última terça-feira (12), no encontro convocado por Bolsonaro para anunciar o lançamento do partido, Bibo pediu no grupo de WhatsApp de deputados bolsonaristas que Crispim fosse barrado. Os parlamentares riram, Crispim compareceu à reunião e nenhum incidente foi registrado.
Assim como Brum, parte dos parlamentares tem dúvidas sobre como irá ocorrer a migração para o Aliança pelo Brasil. O caminho será entrar em litígio para deixar o PSL e manter o mandato sem ferir as leis eleitorais. Eles defendem que podem assegurar o mandato ao irem para uma legenda recém-criada, em uma saída jurídica costurada pelo advogado Admar Gonzaga, ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
— Há justa causa para que deixemos o partido. Houve quebra do contrato tácito – argumentou Sanderson.
Bivar não deverá liberar os dissidentes, nem mesmo aqueles que são alvo de processos disciplinares, como Bibo. Uma ala do PSL sustenta que os deputados recebam apenas advertências ou suspensões temporárias. Para Crispim, permanecer no partido não representa afastamento das pautas de Bolsonaro:
– Eu voto com o presidente e vou continuar votando com ele. Essa imagem que estão vendendo de que existem deputados traidores é uma falácia.
Rompido com os bolsonaristas desde que foi nomeado presidente do PSL no Estado pela executiva nacional, o deputado teve sua foto incluída na lista de "traidores" que circula nos grupos de WhatsApp de parlamentares, assessores e apoiadores do presidente.
Discussão sobre prefeitura de Porto Alegre implodiu grupo do WhatsApp
Na Assembleia, Luciano Zucco e Vilmar Lourenço anunciaram a intenção de mudar para o Aliança pelo Brasil. Se o novo partido vingar, o PSL irá se tornar uma bancada de um homem só no parlamento gaúcho, apenas com a cadeira de Aparecido Macedo. Também do PSL, Ruy Irigaray está afastado do Legislativo desde que assumiu como secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo do governo Eduardo Leite, mas também disse que fica.
Antes mesmo de anunciadas as migrações, os representantes do PSL no Rio Grande do Sul vinham trocando poucas palavras. O WhatsApp do PSL gaúcho implodiu no dia 10 de outubro, quando o grupo que reunia os parlamentares da legenda terminou por causa de uma discussão sobre a candidatura à prefeitura de Porto Alegre em 2020.
Imersos em disputa pela influência na legenda desde o início do ano, Zucco e Irigaray protagonizaram o bate-boca. A discussão começou quando Zucco enviou mensagem agradecendo a Sanderson, Bibo e Lourenço pelo apoio para que disputasse o Paço Municipal.
Em agosto, contudo, Irigaray havia sido lançado o pré-candidato do PSL à prefeitura. Estupefato, o secretário respondeu com o print de um grupo do PSL do Interior, no qual um assessor de Sanderson negou o apoio. Zucco reagiu chamando Irigaray de "guri cagado", que retrucou classificando o rival como "imbecil sem postura de homem".
No vale-tudo, o deputado ainda acusou Irigaray de "trair a confiança de todos" ao ingressar no governo Leite, e o secretário replicou afirmando que Zucco "até tem nível, mas que é baixo". Um a um, os integrantes deixaram o grupo.
Nesta semana, Zucco admitiu pela primeira vez publicamente, embora ambicionasse nos bastidores há meses, o desejo de concorrer à prefeitura de Porto Alegre. Agora, pelo Aliança pelo Brasil. Diante do aprofundamento dos desentendimentos, tornou-se rotina entre os integrantes do PSL uma rede de intrigas vindas do fogo amigo. Os ataques incluem e-mails acusando correligionários de "rachadinha", acusações de desvios durante a campanha eleitoral e trocas de socos. Ao menos três reuniões já terminaram em agressões – em uma delas, um grampeador industrial chegou a ser arremessado.