Em entrevista à TV Record na noite deste domingo (3), o presidente Jair Bolsonaro anunciou que tem "80% de chance de sair do PSL" e "90% de chance de criar um novo partido". A expectativa é reunir, de forma eletrônica, o número mínimo de assinaturas necessárias para criar um partido, inaugurar a nova sigla até março e lançar ao menos 200 candidatos nas eleições municipais de 2020.
— A probabilidade é de 80% para sair e 90% de criar um novo partido, do zero, sem televisão nem fundo partidário. Meu sonho é criar um partido que junte assinaturas de forma eletrônica, ter até março um partido e lançar 200 candidaturas pelo Brasil. E escolheria quem concorreria para qual prefeitura — afirmou.
A declaração ocorre em meio a um racha no PSL. De um lado, estão aliados do presidente do partido, Luciano Bivar (PE), e, do outro, parlamentares ligados à família Bolsonaro. O pano de fundo é a disputa pelos R$ 110 milhões de reais do fundo partidário, uma verba pública que financia campanhas políticas. Bolsonaro já pediu à Procuradoria-Geral da República (PGR) para bloquear o valor.
O presidente da República, no entanto, negou que esteja interessado pelo fundo partidário e afirmou que pretende sair do PSL para evitar ser associado a denúncias de corrupção. Afirmou, ainda, que ficaria na sigla se fosse alçado ao comando.
— (Hoje) Eu pago a conta sobre qualquer possível desvio de terceiros no partido. Ou passo a ter o comando das ações do partido para acabar com isso aí e abrir a caixa preta, se tiver, e fazer o fundo partidário ir para onde tem que ir, ou... O que pode acontecer? Posso sair do partido. Não estou brigando por recurso do fundo partidário, o que não quero é ter problemas nas eleições municipais. Alguns estão dizendo que quero fundo partidário para comprar voto. Eu sou presidente da República, tenho uma caneta muito mais forte do que o fundo partidário e não estou a usando para ganhar voto.
AI-5
Após criticar indiretamente o filho Eduardo, que cogitou a aplicação de um novo AI-5 no Brasil, Jair Bolsonaro o defendeu com base no princípio de imunidade parlamentar. O presidente também admitiu que os filhos influenciam suas atitudes.
— Para que o artigo 53 da Constituição? “Políticos são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos”. Foi infeliz o garoto. Puxei a orelha dele, mas meus filhos não me atrapalham. Pelo contrário, me ajudam muito a identificar quem não está na nossa linha. Ninguém vive dentro do Palácio (do Planalto) dizendo o que eu não tenho fazer. Dizem, sim, de projetos, propostas e o que está fora da curva.
Caso Marielle Franco
O presidente também comentou o depoimento do porteiro que o ligou ao caso Marielle Franco. Bolsonaro disse que a Advocacia-Geral da União (que representa os interesses da Presidência) pediu que a Procuradoria-Geral da República peça um novo depoimento ao porteiro do condomínio.
Bolsonaro atacou mais uma vez o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, acusando-o de vazar o depoimento e "usar a máquina pública para me perseguir". Ele ainda disse que a Globo fez "um jornalismo sujo" e refutou as afirmações de que está obstruindo a Justiça ao colher os áudios da portaria de seu condomínio.
— Apenas falei ao meu filho, que foi à portaria. Qualquer um dos 150 moradores do condomínio pode, ele botou o áudio e filmou — disse o presidente.
Estabilidade do serviço público e reforma econômica
Sobre a reforma administrativa que será encaminhada ao Congresso, o presidente reafirmou que o texto não deve tirar a estabilidade dos servidores já contratados, mas sim daqueles que futuramente serão contratados. Ele destacou que certas carreiras, como na Polícia Federal (PF), Polícia Rodoviária Federal (PRF) e Exército seguiram estáveis.
Na entrevista, Bolsonaro ainda mencionou o plano de reformas econômicas de Paulo Guedes, no qual uma das propostas é desvincular (desobrigar) o Orçamento a investir em certas áreas. A ideia da medida é reduzir despesas e dar mais liberdade para que o governo escolher onde gastar, mas a proposta é criticada por abrir a porta para que a União invista menos em educação e saúde. O presidente, no entanto, repetiu o discurso do ministro da Economia e negou a possibilidade:
— O que o governo quer é deixar para o Parlamento. O (orçamento) global vai para o Parlamento, que decide se irá dar mais para educação ou saúde. Você (governo federal) hoje é obrigado a gastar um valor que não é necessário. O Parlamento irá decidir os recursos, então a responsabilidade do orçamento será dele. O Executivo está abrindo mão disso.
Vazamento de óleo
Após sugerir, sem provas, que o Greenpeace pudesse estar por trás do desastre ambiental no Nordeste, Bolsonaro seguiu o relatório da Polícia Federal e afirmou que "todos os indícios” levam para responsabilidade do cargueiro grego que teria sido abastecido com barris de óleo na Venezuela e sofrido um vazamento próximo à costa brasileira.
— A notícia ruim é que o que foi recolhido é apenas uma pequena parte do óleo derramado. Temos um anúncio de uma catástrofe muito maior que está para ocorrer.