O comentarista da rádio Jovem Pan e da TV Record e colunista da revista Veja Augusto Nunes agrediu o jornalista Glenn Greenwald durante a transmissão ao vivo do programa Pânico, da Jovem Pan, no início da tarde desta quinta-feira (7) — a agressão ocorreu pouco depois dos 30 minutos do vídeo. Por causa do incidente, o programa teve de ser interrompido pelo apresentador, Emílio Surita. Mais tarde, a rádio lamentou o episódio (confira a nota no final do texto).
— Não tem condição, não tem condição — disse Emílio.
A discussão entre os dois convidados começou quando Glenn chamou Nunes de "covarde". O jornalista do The Intercept Brasil se referia aos comentários do colunista sobre os seus filhos com o deputado David Miranda (PSOL-RJ). Segundo Glenn, Nunes disse que um juiz deveria investigar se o casal deveria perder a guarda das crianças.
— Foi a coisa mais nojenta que eu ouvi na minha vida — afirmou Glenn.
— Essa é a prova de que o Brasil criou o faroeste à brasileira. Quem tem que se explicar é quem comente crimes, quem fica cobrando quem age honestamente — respondeu Nunes, dizendo que o comentário continha "ironia".
— Você é um covarde, você é um covarde — reagiu Glenn.
Nesse momento, Nunes investiu contra o jornalista e tentou atingir o seu rosto, mas sem sucesso. Os dois se levantaram das cadeiras e deram início a um empurra-empurra. De pé, Nunes acertou o rosto de Glenn com uma das mãos.
Os participantes do programa interviram, separando os dois convidados, e Emílio pediu "calma". Antes que o programa fosse interrompido, Glenn avançou contra Nunes e quase atingiu o seu rosto.
— Cabine, vamos cortar, vamos tocar uma música aqui — disse Emílio.
Disponível no YouTube, a transmissão em vídeo foi interrompida pelo logo do Pânico. Porém, mesmo depois do corte, é possível ouvir que a discussão seguiu no estúdio.
— Aqui não vai me chamar de covarde, não, babaca — gritou Nunes.
— Você é um covarde — respondeu Glenn.
— Covarde, mas apanhou na cara — reagiu Nunes.
Doze minutos depois, o programa retornou. Porém, sem a presença de Nunes. Ao ouvir do apresentador que estava "muito nervoso", Glenn retomou a discussão.
— Ele disse: "Quero saber quem está cuidando desses filhos, um juiz de menores deveria investigar". Não foi nada irônico — reforçou Glenn.
Uma das participantes do programa pediu ao jornalista que a entrevista fosse retomada, mas sem que se mencionasse Nunes, a pedido do departamento de jornalismo da emissora. Assim, a transmissão do Pânico prosseguiu.
Fundador do site The Intercept Brasil, Glenn tem publicado uma série de reportagens baseadas em mensagens trocadas no aplicativo Telegram entre procuradores da força-tarefa da Lava-Jato e o ex-juiz Sergio Moro, hoje ministro da Justiça.
Após a repercussão do episódio, Nunes afirmou à Folha de S.Paulo que não se arrependeu de sua atitude e que reagiu "como qualquer homem reagiria.
– Eu fui insultado moralmente. Aí, adverti para que ele não usasse a palavra "covarde", que é insultuosa, que é grave. Adverti cinco vezes, ele insistiu. Eu tinha duas opções: ou reagir com altivez ou engolir o insulto. Não tive alternativa. Eu reagi como qualquer homem reagiria. O agredido fui eu. Eu reagi a uma agressão – comentou o jornalista.
Em seu Twitter, Glenn se posicionou em vídeo:
– O uso da força física e da violência no debate político é uma coisa muito grave.
Confira abaixo o que eles disseram antes das agressões físicas:
Glenn – Eu acredito (em) fazer diálogo com qualquer um, inclusive com Augusto Nunes. (...) Mas tem limites. E nós temos muitas divergências políticas. Eu não tenho problema nenhum em ser criticado por meu trabalho. Eu critico ele também. Mas o que ele fez, ele disse neste canal, Jovem Pan, foi a coisa mais feia e mais suja que eu vi na minha carreira como jornalista. (...) Ele disse que um juiz de menores deveria investigar nossos filhos e decidir se nós deveríamos perder nossos filhos, se eles deveriam voltar para um abrigo, com base nenhuma. Acusando que nós estamos abandonando, fazendo negligência com nossos filhos. A coisa mais nojenta que eu vi na minha vida. Eu quero saber se você acredita ainda que um juiz de menores deveria investigar nossa família, com possibilidade de tirar nossos filhos da nossa casa e voltar eles para o abrigo, sem pai, sem mãe, sem família nenhuma. Você acredita nisso?
Augusto – Essa é a prova de que o Brasil criou o faroeste à brasileira, né? Quem tem que se explicar é quem comete crimes que fica cobrando quem age honestamente. Ouçam o que eu disse. Primeiro vocês vão perceber que ele ainda não sabe identificar ironias. Não sabe identificar um ataque bem-humorado. E eu convido ele a provar em que momento eu pedi que algum juizado fizesse isso. Eu disse apenas que o companheiro dele passa o tempo em Brasília, ele passa o tempo todo lidando com material roubado. E eu falei: quem é que vai cuidar dos filhos? Era isso. É isso.
Glenn – Você é um covarde, você é um covarde. Eu vou falar por que você é um covarde.
Augusto – Não fala de covardia comigo.
Glenn – Você é um covarde, Augusto Nunes. Você é um covarde.
Augusto – Se falar em covarde... Eu vou te mostrar. (Nesse momento, Augusto agride Glenn). Eu te mostro o que é covarde. Eu te mostro quem tem coragem (inaudível). Eu te mostro quem tem.
Nota da emissora
Na tarde desta quinta, a emissora divulgou uma nota sobre o caso. No texto, a Jovem Pan pediu desculpas "aos ouvintes, espectadores e convidados desta edição do Pânico, inclusive Glenn Greenwald".
Confira a nota na íntegra:
"A Jovem Pan lamenta o episódio ocorrido ao vivo no programa Pânico desta quinta-feira (7) entre os jornalistas Augusto Nunes e Glenn Greenwald.
Defensora vigilante dos princípios democráticos, do pluralismo de ideias e da liberdade de expressão, a Jovem Pan sempre abriu suas portas para convidados de diferentes campos ideológicos e com opiniões dissonantes, para que cada brasileiro forme seu juízo tendo acesso a visões variadas sobre os temas mais relevantes do momento.
Uma das principais marcas do Pânico é receber personalidades para o debate aberto e franco, bem-humorado e eventualmente ácido. Glenn Greenwald já participou da bancada em diversas outras oportunidades.
A liberdade de expressão e crítica concedida pela Jovem Pan a seus comentaristas e convidados, contudo, não se estende a nenhum tipo de ofensas e agressões. A empresa repudia com veemência esses comportamentos.
A Jovem Pan pede desculpas aos ouvintes, espectadores e convidados desta edição do Pânico, inclusive Glenn Greenwald.
Grupo Jovem Pan"
The Intercept Brasil manifesta solidariedade
O site The Intercept Brasil, em que Greenwald é editor e cofundador, também divulgou nota, em solidariedade ao jornalista. No texto, o grupo afirma que "é uma conduta lamentável utilizar crianças para agredir adversários políticos" e ainda "recorrer à agressão física".
Veja a nota na íntegra: