Presidente do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), corte responsável pela análise dos processos da Lava-Jato em 2ª instância, Victor dos Santos Laus disse que Luiz Inácio Lula da Silva "não é bem-vindo onde está". Desde 7 de abril de 2018, o ex-presidente cumpre pena por corrupção e lavagem de dinheiro na superintendência da Polícia Federal (PF), em Curitiba.
Em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, na manhã desta terça-feira (1º), Laus também afirmou considerar uma "situação extraordinária" a decisão de Lula de recusar a progressão de regime, indo para o semiaberto.
— Nós já recebemos manifestações da comunidade de Curitiba, da cidade e do entorno onde se localiza a Polícia Federal pedindo várias vezes para que o presidente saia de Curitiba. Aquela situação está desvalorizando imóveis da região, causando tumultos à comunidade que mora na vizinhança. O ex-presidente sabe que ele não é bem-vindo onde está por parte da comunidade de Curitiba, do morador da cidade. O fato de ele recusar um beneficio é uma situação extraordinária. Uma vez implementado o tempo necessário, ele progride, sim, de regime — disse Laus.
Na segunda-feira (30), Lula divulgou uma carta afirmando que não aceita "barganhar" seus direitos para deixar a prisão. "Não troco minha dignidade pela minha liberdade", protestou. "Quero que saibam que não aceito barganhar meus direitos e minha liberdade", reagiu o ex-presidente, em resposta à Lava-Jato. Na sexta-feira (27), a força-tarefa havia recomendado que a Justiça Federal concedesse a progressão de regime ao ex-presidente.
À Rádio Gaúcha, o desembargador também afirmou que as condições da prisão de Lula podem ser consideradas uma "regalia":
— O ex-presidente desfruta de uma condição especialíssima. Ele não está preso em estabelecimento que rigorosamente é destinado a todos os demais presos. Está nas dependências da Polícia Federal em Curitiba, uma situação absolutamente especial, até em função da condição do ex-presidente. Pode-se dizer que isso é uma regalia, porque os demais presos não desfrutam de tratamento semelhante — comentou o desembargador.
Laus tomou posse como presidente do TRF4 no final de junho deste ano. No início de 2018, foi um dos desembargadores da 8ª Turma que mantiveram a condenação de Lula no caso do triplex do Guarujá, aumentando a pena imposta ao ex-presidente de nove anos e seis meses para 12 anos e um mês de prisão.