Demitido em meio à polêmica sobre a criação de uma nova CPMF nesta quarta-feira (11), Marcos Cintra ocupava o cargo secretário especial da Receita Federal desde janeiro. Histórico defensor de um imposto único — na forma de um tributo sobre movimentações financeiras — as ideias do agora ex-chefe da Receita vinham enfrentando resistência entre especialistas, integrantes do governo e do próprio Jair Bolsonaro.
Nomeado pelo presidente, Cintra assumiu o cargo após ser indicado pelo ministro de Economia, Paulo Guedes. O nome do tributarista foi anunciado em cerimônia em janeiro, em Brasília.
Cintra é economista e tem quatro títulos superiores pela Universidade de Harvard — Bacharel em Economia, Mestre em Planejamento Regional, Mestre e Doutor em Economia.
Na política, elegeu-se deputado federal em 1998, cargo que ocupou até 2003. Também integrou as Comissões de Finanças e Tributação e da Reforma Tributária e foi presidente da Comissão de Economia, Indústria e Comércio. Ainda atuou como secretário de Desenvolvimento Econômico na cidade de São Paulo.
Em sua gestão no governo Bolsonaro, Cintra costumava mostrar uma postura de alinhamento com o Executivo. Além disso, defendeu, por exemplo, a indicação de Eduardo Bolsonaro ao cargo de embaixador do Brasil em Washington, nos Estados Unidos. Quando o presidente anunciou que indicaria o filho para o posto, o chefe da Receita afirmou, no Twitter, que a iniciativa representava uma "manobra hábil e inteligente".
Mesmo assim, o economista teve alguns atritos com o governo. Em maio, foi desautorizado por Bolsonaro. Ele foi desmentido publicamente pelo presidente depois de afirmar que a Receita cobraria tributos de igrejas — naquele mesmo dia, devido à repercussão, Bolsonaro veio a público para contradizer o secretário.
A possibilidade desagradou parlamentares da bancada evangélica, com quem o presidente e o secretário se reuniram para tratar de interesse dos religiosos. Na oportunidade, o porta-voz da Presidência, general Otávio Rêgo Barros, afirmou que não havia "fricção" entre os dois.
No mês passado, em meio a pressão do governo, o número dois da Receita Federal foi substituído. Após Bolsonaro indicar mudanças no comando do órgão, o Ministério da Economia confirmou a demissão do subsecretário-Geral João Paulo Ramos Fachada Martins da Silva. Na ocasião, Cintra agradeceu, em nota, o "empenho e a dedicação" de Fachada Martins no período em que desempenhou suas funções.
A medida do governo gerou apreensão entre servidores da Receita, que reclamam de interferências do Planalto — o presidente tem feito reiteradas críticas ao que chama de "perseguição" de auditores e procuradores contra ele e sua família.
Após o anúncio da demissão de Cintra, nesta quarta, o governo comunicou que o auditor fiscal José de Assis Ferraz Neto assumirá interinamente o cargo.