A indicação de Augusto Aras para o comando do Ministério Público Federal (MPF) revoltou a Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR). A entidade classificou a escolha do presidente Jair Bolsonaro "um retrocesso institucional e democrático". A associação convocou os procuradores de todo o país a participarem de um ato de protesto na próxima segunda-feira (9) e pretende convocar o colégio de procuradores da República, instância máxima da categoria, para discutir os rumos do movimento.
Em nota oficial, a diretoria da ANPR diz ter recebido "com absoluta contrariedade" o nome do subprocurador-geral para o cargo de procurador-geral da República (PGR). O colegiado afirma que a posição de Bolsonaro "interrompe um costume constitucional de quase duas décadas de respeito à lista tríplice, que foi instituída em 2001 e passou a ser considerada para a escolha da chefia da PGR em 2003, no governo Lula.
Os procuradores lembram que Aras não concorreu na eleição interna da categoria, portanto "não foi submetido a debates públicos, não apresentou propostas à vista da sociedade e da própria carreira". Eles citam a audiências mantidas pelo escolhido pelo presidente da República, nas quais "não se sabe o que conversou em diálogos absolutamente reservados, desenvolvidos à margem da opinião pública".
A ANPR reclama ainda dos fatores que pesaram na escolha de Bolsonaro, sobretudo a afinidade ideológica, e diz que Aras não tem "qualquer liderança para comandar uma instituição com o peso e a importância do MPF". Para a categoria, Bolsonaro demonstra desconhecer o funcionamento das instituições e ressalta que o MPF é independente, estando desatrelado do governo.
No Twitter, procuradores relacionados à Operação Lava-Jato também fizeram críticas à escolha de Jair Bolsonaro. "Não havia presenciado tamanho desprestígio e desrespeito com a Instituição desde 2004, quando ingressei no MPF", afirmou Jerusa Viecili, que é da força-tarefa de Curitiba.
O primeiro colocado da lista tríplice, Mario Bonsaglia, também fez críticas. " Dia melancólico para o MPF. A indicação fora da lista do novo PGR representa um retrocesso de décadas para a instituição", afirmou. O nome de Aras também sofreu críticas de movimentos de direita, que apoiaram Bolsonaro no segundo turno da eleição presidencial de 2018, como o Vem Pra Rua e o Movimento Brasil Livre (MBL).