A decisão de Jair Bolsonaro (PSL) de indicar Augusto Aras para o cargo de procurador-geral da República, anunciada nesta quinta-feira (5), desagradou a grupos de direita e apoiadores do presidente. A crítica é pelo fato de Aras já ter defendido no passado algumas teses ligadas à esquerda — ele já citou slogan de Lula em entrevista em 2016.
O indicado para a PGR, porém, declara ter perfil conservador e encampou nos últimos meses ideias defendidas por Bolsonaro. Aras fez críticas à "ideologia de gênero" (termo de conservadores e não reconhecido por estudiosos), à decisão do STF de criminalizar a homofobia e à política de cotas raciais nas universidades. Também declarou apoio ao excludente de ilicitude para proprietários rurais que atirarem em invasores de terras.
O Vem Pra Rua, por exemplo, tuitou que Aras "criticou a Lava Jato, deu festa para o PT, defendeu o MST e elogiou Che Guevara". "Vamos ao que interessa. Augusto Aras vai proteger Rodrigo Maia e Toffoli como fez Raquel Dodge?", questionou o movimento.
O MBL (Movimento Brasil Livre), que adotou uma posição crítica em relação a Bolsonaro, também apontou ações de Aras para aproximá-lo da esquerda. O deputado estadual Arthur Mamãe Falei (DEM), que é membro do MBL, lembrou que ele chamou o MST de "movimento importante da sociedade brasileira".
Nas redes sociais, alguns bolsonaristas afirmaram que "a escolha foi péssima", "um grande retrocesso" e "estupidez". A hashtag #ArasNão também apareceu nas publicações. Houve, porém, quem defendesse um voto de confiança a Bolsonaro.
Nome passará pelo Senado
O escolhido pelo presidente precisa agora ser aprovado em sabatina do Senado. O mandato é de dois anos. Pela primeira vez em 16 anos, o novo PGR não está na lista tríplice escolhida em eleição interna da associação nacional de procuradores.
Aras se lançou oficialmente à corrida pela PGR em abril deste ano, quando, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, foi o primeiro candidato a admitir publicamente que disputava o cargo por fora da lista tríplice -o que lhe rendeu críticas de colegas, que veem na eleição interna uma forma de garantir a independência da instituição em relação do Poder Executivo.
Aras, porém, tem afirmado que tem apoio de parte da categoria e antecipou que chamará para os cargos de segundo escalão procuradores de perfil conservador -ao gosto do presidente.
Ele se diz entusiasta de medidas do governo Bolsonaro para destravar a economia, em especial na área de infraestrutura, manifesta apoio à Lava Jato "como política de Estado", mas critica seu "personalismo", e se autodeclara conservador — Aras é cristão, como o presidente.
"Eu sempre apoiei a Lava-Jato, não como política de governo, [mas] como política de Estado. A Lava-Jato precisa ser muito maior, avançar para todos os estados, municípios. Acima de tudo, sem personalismo, sem dono", disse à Folha de S.Paulo neste ano.