O governador Eduardo Leite avaliou, nesta sexta-feira (20), que o governo do Estado não deve se envolver no debate sobre a privatização do Banrisul, sob risco de que isso atrapalhe a aprovação de projetos prioritários ao Piratini. Leite destacou que a venda do banco não resolveria o problema fiscal do Estado, o que, no entendimento dele, passa por "reformas estruturais".
— Não é o nosso foco. Eu não entendo que a privatização do banco resolva os problemas do Estado. O que precisa ser feito para resolver os problemas do Estado são as reformas estruturais, o que causa o déficit. Se todo o foco e esforço do governo for colocado na privatização de um banco, o governo perde o foco e deixa de fazer as outras ações que são mais importantes, porque são da estrutura do Estado — disse Leite, em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade.
Na mesma resposta, Leite acrescentou que a venda do banco ajudaria o governo dele, mas não resolveria o problema de longo prazo do Estado.
— Não adianta vender o banco e colocar esse dinheiro em uma estrutura que está causando déficit ao Estado. Para o meu governo poderia ser a solução mais fácil, porque ajudaria a pagar as contas do momento, mas lá na frente o Estado voltaria a ser deficitário. Queremos soluções estruturais e sabemos o quanto esse debate da privatização pode contaminar as soluções estruturais — afirmou.
As declarações ocorrem um dia após o governador indicar, em entrevista coletiva, que aceitaria debater a privatização do banco se o assunto fosse proposto pela Assembleia Legislativa. Tramita no Legislativo uma proposta para retirar da Constituição estadual a exigência de plebiscito para venda do Banrisul.
Durante a entrevista desta sexta à Rádio Gaúcha, o governador voltou a dizer que ouvirá as manifestações da Assembleia, mas disse acreditar que o Legislativo não será favorável à venda da instituição.
— Tirar a exigência do plebiscito é uma coisa. Não quer dizer que os deputados que tenham assinado a retirada da exigência do plebiscito concordem com a privatização. E eu acho que todos os passos devem ser cumpridos na Assembleia Legislativa, se assim a Assembleia entender que deva ser feito. Não é o foco, eu não vou patrocinar esse debate e vou manter o foco naquilo que entendo que é importante, que são as reformas estruturais. Evidentemente não sou irresponsável, de ser surdo a uma manifestação contundente que venha do povo gaúcho através da Assembleia. Entendo que não virá, honestamente. Entendo que isso não acontecerá — disse Leite.
Venda de ações
Na quinta-feira (19), o governo do Estado, acionista majoritário do Banrisul, formalizou ao mercado o cancelamento da operação de venda de ações do banco, que estava em curso há 10 dias. O governo desistiu do negócio devido ao baixo valor que foi oferecido pelos investidores.
Se concretizada, a operação injetaria mais de R$ 2 bilhões nos cofres do Estado e tinha potencial de viabilizar que o governador cumprisse a promessa de campanha, de colocar os salários dos servidores em dia até o fim deste ano.
— Estou obstinado, firme na viabilização das condições de pagarmos os servidores em dia. Trabalhando para que seja dentro deste ano. Se não for (neste ano), não deixa de ser um compromisso. Vai ser em janeiro, vai ser em fevereiro, vai ser adiante, vai ser o quanto antes puder ser feito — afirmou Leite.
A venda de ações ordinárias – que dão direito a voto – foi criticada por deputados de diferentes matrizes ideológicas da Assembleia. Parlamentares do MDB, PT, Novo, PDT, PSL, PSOL e SD classificaram a estratégia tentada por Leite como "grave prejuízo ao patrimônio" e destacaram que, se vendesse as ações, o governo "abriria mão de uma fonte de renda permanente", em referência ao dinheiro que o Executivo injeta no seu cofre anualmente por ser o acionista majoritário do Banrisul.