Os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro ainda chegavam silenciosos para acompanhar a solenidade de inauguração de 47 quilômetros em trechos duplicados da BR-116, em estrutura montada na região de Pelotas especialmente para o ato, quando o deputado estadual Zé Nunes (PT) foi avistado pelos populares na manhã desta segunda-feira (12). Com atuação política na zona sul do Estado, Zé Nunes foi reconhecido pela comunidade local e motivou a primeira reação durante a passagem da comitiva presidencial: “Fora PT” foi o coro mais entoado, em altos brados, mas o parlamentar também foi chamado de “oportunista”, entre outros xingamentos e apupos. Zé Nunes passou reto pelo local de concentração do público, sem responder, se dirigindo ao reservado dos convidados.
O petista, ex-prefeito de São Lourenço do Sul por dois mandatos, explicou o motivo da sua presença, mesmo em terreno que, sabidamente, seria hostil. Primeiro, cita ter governado uma cidade transpassada pela BR-116, rodovia alvo da duplicação que estava sendo inaugurada. Por conta da atuação regional, Zé Nunes também é coordenador, na Assembleia Legislativa, da Frente Parlamentar em Defesa da Conclusão da Duplicação da BR-116. Ele diz que foi convidado, tendo decidido aceitar por se tratar de uma visita do presidente da República à sua região, em tema de “interesse geral”, embora frise “não ter nenhuma concordância com as políticas” de Bolsonaro.
— Nossa participação no ato de hoje tem a ver com o mínimo de representação institucional de um mandato parlamentar. Criamos o primeiro espaço de organização política para defender a conclusão da BR-116 (frente parlamentar), quando lá em 2016 tivemos reduções (de aplicação) dos recursos, praticamente a paralisação da obra. Foi para ter mais força e buscar recursos, não deixar a obra parar. As questões prioritárias do Estado precisam do mínimo de consenso para podermos trabalhar. Estive lá na condição de presidente da frente parlamentar, que trabalha há muito tempo pela conclusão dessas obras — explicou o deputado.
Zé Nunes ainda destacou que a construção teve início no governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), período em que ocorreu a liberação de grande parte dos recursos utilizados até agora na duplicação, que se alonga há sete anos.
— Pena a fala do presidente. Veio inaugurar uma obra em que todo o recurso aplicado até hoje é dos governos passados. Não tem recurso de orçamento do governo Bolsonaro ainda nessa obra. O presidente fez uma fala de palanque, de acirramento de diferenças, para um grupo radical. A maior parte do tempo, ele fez discurso para a plateia radicalizada pela direita, da intolerância. O ambiente está tenso, continua tenso, e o presidente faz questão de alimentar isso. Ele está em processo político permanente de palanque — disse o petista.
Outros políticos também foram hostilizados por cerca de uma centena de simpatizantes de Bolsonaro que se deslocaram até o quilômetro 492 da BR-116 para acompanhar a solenidade. Um dos principais alvos foi a prefeita de Pelotas, Paula Mascarenhas (PSDB), que teve o discurso abafado por coros de “cala a boca”. O vice-governador Ranolfo Vieira Jr. (PTB) também foi alvo de vaias.
Durante a solenidade, Bolsonaro anunciou a liberação de R$ 100 milhões para a continuidade das obras. No total, o trecho entre Guaíba e Pelotas da BR-116 tem 211 quilômetros, dos quais 47 foram entregues duplicados na cerimônia desta segunda-feira. O ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, explicou que a verba será viabilizada a partir de um projeto de lei que fará a suplementação dos recursos no orçamento deste ano. Tarcísio ressalta que a BR-116, assim como a nova ponte do Guaíba, foram colocadas entre as cinco prioridades rodoviárias do país pelo governo Bolsonaro.