Destituída da presidência da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), Eugênia Augusta Fávero criticou a mudança que, segundo ela, foi feita sem "sequer um esclarecimento" pelo presidente Jair Bolsonaro. Para Eugênia, a substituição "foi uma decisão não motivada juridicamente".
— Tenho certeza que a substituição foi uma forma de represália pelas nossas posturas (...) O governo nitidamente não tem o perfil de atender as famílias, considera que essas pessoas que foram mortas não são vítimas, são, como ele (Bolsonaro) chama, terroristas — afirmou, em entrevista ao Gaúcha Atualidade desta sexta-feira (2).
A agora ex-presidente lamentou as alterações na composição da CEMDP. Segundo ela, são cerca de 150 famílias atendidas pela comissão — que existe desde 1995, ao longo de todos os governos.
— Essas famílias consideravam a comissão, na nossa condução, como último espaço dentro do Estado brasileiro em que elas tinham acolhimento. Acho que isso vai ser difícil ser mantido — pontuou.
Ouça a entrevista:
Bolsonaro e a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, trocaram quatro dos sete integrantes da CEMDP. A mudança foi publicada na edição de quinta-feira (1º) do Diário Oficial da União.
A troca ocorreu uma semana depois de a comissão, vinculada ao governo, emitir documento reconhecendo que a morte de Fernando Santa Cruz, pai de Felipe Santa Cruz, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), ocorreu "em razão de morte não natural, violenta, causada pelo Estado Brasileiro".
Ex-assessor de Damares, Marcos Vinicius Pereira de Carvalho assume a presidência no lugar de Eugênia. Também ao Gaúcha Atualidade, ele afirmou que dará continuidade ao trabalho anterior e que o foco é dar "resposta às famílias que aguardam notícias e desfechos sobre a situação de seus mortos".
Questionado sobre se a mudança ocorre em razão das recentes declarações de Bolsonaro e das criticas de aliados e de entidades, Carvalho afirmou que sua nomeação já estava encaminhada desde maio, mas que ficou embargada por questões burocráticas.
A mudança neste momento, segundo ele, é uma coincidência. Sobre revisão de atos, como da morte de Fernando Santa Cruz, o novo presidente da comissão afirmou que não deve ocorrer, se os atos forem legítimos.
— Se for fora da legalidade, é o nosso dever promover a revisão. Mas não é o foco do nosso trabalho fazer qualquer levantamento ou caça às bruxas — enfatizou.