Presidente nacional do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann está percorrendo o Brasil na tentativa de unir os partidos de esquerda contra o governo Jair Bolsonaro. Em visita a Porto Alegre nesta segunda-feira (26), ela pregou uma ação conjunta da oposição no Congresso.
— A gente tem conseguido ter posição unitária sobre vários temas, como na reforma da Previdência, na defesa da educação e da democracia. O esforço é fazer com que essa frente se reproduza nos Estados e municípios — afirma.
Embora a convergência pregada por Gleisi tenha na base os grandes partidos de esquerda no país (PT, PSB, PDT, PCdoB e PSOL), o evento programado para esta segunda-feira na Capital foi boicotado por PDT e PSB.
Gleisi diz entender as diferenças regionais, sobretudo num momento em que os partidos começam a se preparar para as eleições municipais de 2020. Para a deputada, a conjuntura nacional se sobrepõe às querelas locais, inclusive diante das reclamações sobre a suposta hegemonia do PT sobre as demais legendas:
— É uma questão de resistência pela democracia e pelo país. Os partidos estão entendendo isso. O PT não pretende ser hegemônico. Óbvio que é um partido grande, tem presença forte, mas temos trabalhado para que todos os partidos tenham protagonismo.
A deputada reconhece as dificuldades diante de um Congresso de perfil conservador, eleito na esteira da vitória de Bolsonaro. Ela cita conquistas que considera importante, como evitar a capitalização da Previdência, mas também admite que parte das ações da oposição acaba sendo capitalizada pelo Centrão e pelo presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM).
— Houve vitórias pontuais, pela força da resistência, da conversa interna no parlamento e da mobilização da sociedade. Mas como eles têm maioria, tentaram trazer para si a vitória. Só que eles foram premidos pela ação da oposição e pela opinião pública. Começa a haver um reconhecimento mais crescente desse papel da oposição — sustenta.
Gleisi diz esperar que essa atuação parlamentar se reflita nas eleições de 2020. Sem candidatos naturais para à disputa de prefeituras em capitais importantes, como Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, o PT está disposto a abrir mão da cabeça de chapa em nome de aliados mais competitivos.
— Nós queremos fazer um esforço de composição. Em Porto Alegre tem o nome da Manuela (D'Avila), que é um nome nacional, forte. Mas se não acontecer, temos lideranças como Maria do Rosário, (Henrique) Fontana, a Sofia (Cavedon) e o próprio (Miguel) Rossetto — sugere.
Candidata natural à reeleição ao comando do partido, Gleisi obteve semana passada apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para mais quatros anos de mandato. Nos bastidores, correntes petistas reclamaram da recondução da deputada, cuja principal força reside justamente no apadrinhamento do ex-presidente. Gleisi diz que desconhecer essas reclamações e afirma que jamais o PT teve um presidente que não contasse com o aval de Lula. Ela também rebate as críticas de que a legenda seria refém do slogan "Lula Livre".
— Defender o Lula é um dever do partido. Ele não teve um julgamento justo para conseguir provar sua inocência. Isso está sendo mostrado agora, com a revelação do conluio do (ex-juiz Sergio) Moro com o (procurador Deltan) Dallaganol. Além disso, o Lula corporifica grandes avanços que o povo mais pobre teve. E isso não nos impede de discutir outros temas — afirma.