Alvo de um pedido de impeachment no Supremo Tribunal Federal e à mercê de processo de expulsão do Novo, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, tem a atuação elogiada pela cúpula do partido no Rio Grande do Sul. Dos quatro parlamentares da legenda, três afiançam apoio ao advogado, protagonista de uma crise política devido a problemas ambientais causados por queimadas sem precedentes no passado recente no país.
A dissidência parte do deputado estadual Fábio Ostermann, para quem o ministro deveria se licenciar da legenda. A voz dissonante do Novo lamenta sobretudo a retórica virulenta do ministro. Para Ostermann, embora represente alguns ideais expressos nos pilares ideológicos do partido, Salles não tem outorga oficial para estar no governo e precisa agir com mais diplomacia para evitar conflitos desnecessários.
— Fico estupefato com a condução errática desse processo. É preciso uma abordagem diferente, porque a questão ambiental está contaminada pela retórica do bolsonarismo, que não preza pelo diálogo. Pelo contrário, queima pontes. Não sou a favor de uma caça às bruxas, portanto acho que o melhor para todos seria que ele tivesse a sensibilidade de pedir licença do partido — sugere o parlamentar.
Deputado federal mais votado do Estado e líder da bancada na Câmara, Marcel van Hattem tem outra visão sobre os atos do ministro. Hattem admite que que alguns arroubos verbais de Salles causaram tumulto, mas diz que ele moderou o tom e tem dado declarações mais sóbrias, em contraponto à beligerância do presidente Jair Bolsonaro.
O deputado considera equivocado o pedido de expulsão, protocolado por filiados ao diretório fluminense, por basear-se somente em divergências políticas. Para ele, esse "clima de histeria" não colabora com um debate sério em torno das questões ambientais. Um dos principais entusiastas da gestão de Salles, Hattem diz que o colega mantém-se alinhado com os valores partidários, sobretudo nas políticas de licenciamento.
— Ele entende que preservação ambiental tem de andar de mãos dadas com desenvolvimento econômico. E foi o primeiro ministro do Meio Ambiente em décadas a visitar os Aparados da Serra. Tem uma concepção de que a concessão dos parques à iniciativa privada conserva a natureza e melhora o acesso ao público — argumenta Hattem.
Na semana passada, a direção nacional do Novo divulgou nota oficial esclarecendo que o ministro não representa o partido no governo federal, uma vez que não consultou a agremiação antes de aceitar o convite do presidente Jair Bolsonaro. O documento foi emitido após uma série de cobranças de filiados sobre a postura do ministro, principalmente no decorrer da polêmica envolvendo as queimadas na Amazônia.
A nota diz que os mandatários do Novo agem com "equilíbrio e diálogo" e praticamente se isenta de qualquer ato do ministro, ao afirmar que a legenda não tem "interferência ou participação na gestão do ministério", acrescentando que Salles não compartilha com o partido "seus planos, metas e objetivos".
— Ele não representa o Novo. Isso está muito claro, já que foi convidado e aceitou o cargo sem autorização prévia do partido. Fora isso, eu o considero um bom ministro. Claro que algumas situações poderiam ser evitadas, algumas declarações são exageradas, mas ele tem boas ideias sobre como preservar o ambiente, sem recorrer a proibições exageradas — diz o deputado estadual Giuseppe Riesgo.
Entendimento semelhante tem o primeiro parlamentar do Novo eleito no Rio Grande do Sul. Embora admita não conhecer com profundidade a questão ambiental, o vereador de Porto Alegre Felipe Camozzato diz que Salles faz uma gestão "interessante" à frente da pasta e que tanto o pedido de impeachment como a expulsão do partido são gestos extremados.