A ex-presidente Dilma Rousseff afirmou nesta quinta-feira (11) que gostaria de ter feito uma reforma da Previdência em seu governo e que iniciou um planejamento nesse sentido na ocasião, mas que o processo de impeachment a impediu de concluí-lo.
— Gostaríamos de ter feito uma reforma bem diferente dessa até porque achávamos que tínhamos que manter vários direitos adquiridos, mas também que era necessário, na medida em que nós mesmos fomos responsáveis pelo aumento da expectativa de vida no país — disse.
Ao lado da escritora espanhola Pilar del Río, Dilma visitou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na cela em que ele é mantido na superintendência da PF em Curitiba.
A ex-presidente classificou como "estarrecedora" a liberação de emendas do governo Jair Bolsonaro para parlamentares para viabilizar a aprovação do texto da reforma nesta quarta-feira (10). Questionada como ocorreria a negociação com o Congresso em seu governo, a petista afirmou que não fez e não faria essa liberação.
Para ela, há um temor de empobrecimento dos idosos brasileiros com a reforma.
— O que vai acontecer agora? O que está acontecendo no Chile: aposentados que chegaram ao fim da vida de trabalho e não têm recursos suficientes para sobreviver — apontou.
Em 2016, seu último ano de mandato, a possibilidade de uma reforma no governo petista chegou a ser discutida. Na época, a então presidente declarou que "a Previdência Social precisa ser sustentável para um horizonte muito além" de seu governo.
Dilma ainda comentou os vazamentos de conversas entre procuradores da Lava-Jato e o ex-juiz e atual ministro da Justiça Sergio Moro. Para ela, as mensagens deixam claro que o processo que condenou Lula foi viciado, mas que isso não representa um comprometimento de todos os casos investigados pela operação.
— Não estou dizendo que em relação a todos os réus está viciado. O que temos de dado claro é que, no caso do presidente Lula, houve uma tentativa deliberada e clara do juiz e dos procuradores no sentido de evitar que o presidente tivesse qualquer possibilidade de influenciar na eleição na qual ele era o mais votado pelas pesquisas — declarou.
Para a petista, é clara a afirmação do procurador Deltan Dallagnol de que as provas contra Lula eram frágeis e que, com a condenação posterior por Moro, houve perda de credibilidade do Judiciário brasileiro em todo o mundo.
— Um juiz que é capaz de funcionar como assessor da acusação, em outros momentos como dirigente da acusação não é um juiz isento nem parcial. Isso coloca um problema seríssimo para a Justiça brasileira que é a perda de credibilidade aos olhos não só da população, mas do mundo. Isso é inadmissível num país que se diz democrático. Estado democrático de Direito sem imparcialidade da Justiça não existe — disse.
Ela comparou ainda os vazamentos das conversas entre os procuradores e o atual ministro e os de 2016, em meio às investigações da Lava-Jato. Na ocasião, Moro divulgou o áudio de uma conversa entre a então presidente e Lula, que acabava de ser nomeado para a o cargo de ministro da Casa Civil e ela pedia que ele usasse o termo de posse em caso de "necessidade".
— Foi em nome do combate à corrupção — ironizou. — O raciocínio é uma bomba atômica em cima do sistema de Justiça desse país — continuou.