Horas após negar a existência da fome no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro amenizou sua fala nesta sexta-feira (19). Ao final de evento em comemoração ao Dia Nacional do Futebol, o presidente da República afirmou que "alguns passam fome", e que é inadmissível isso ocorrer num país com as características naturais como as do Brasil.
Durante a manhã, o chefe do Executivo nacional participava de café da manhã com correspondentes internacionais no Palácio do Planalto, em Brasília. Em resposta a uma representante do jornal espanhol El País — que afirmou que o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, havia manifestado preocupação com a desigualdade no Brasil e quis saber que trabalho o governo tem realizado para reduzir a pobreza no país — Bolsonaro respondeu que a fome "é uma grande mentira".
— Falar que se passa fome no Brasil é uma grande mentira. Passa-se mal, não come bem. Aí eu concordo. Agora, passar fome, não — disse, na ocasião. — Você não vê gente mesmo pobre pelas ruas com físico esquelético como a gente vê em alguns outros países pelo mundo — completou.
Questionado se, agora, estava recuando sobre a afirmação realizada durante o café da manhã, Bolsonaro se irritou.
— Ah, pelo amor de Deus, se for para entrar em detalhes, eu vou embora. Eu não tô vendo nenhum magro aqui (entre os jornalistas). Temos problemas no Brasil, temos, não é culpa minha, vem de trás. Vamos tentar resolver — afirmou.
— O que tira o homem e a mulher da miséria é o conhecimento, não são bolsas e programas assistencialistas. Nós temos que lutar nesse sentido, nessa linha, para dar dignidade ao homem e à mulher brasileira — defendeu.
Durante a manhã, Bolsonaro havia dito, ainda, que o Brasil é um país privilegiado e que os poderes Executivo e Legislativo podem fazer "é facilitar a vida do empreendedor, de quem quer produzir, e não fazer esse discurso voltado para a massa da população, porque o voto tem o mesmo peso".
— É só as autoridades políticas não atrapalharem o nosso povo que essas franjas de miséria por si só acabam no Brasil, porque o nosso solo é muito rico para tudo o que se possa imaginar — disse.
Levantamento
Segundo documento divulgado em 4 de abril pelo Banco Mundial, a crise econômica dos últimos anos empurrou 7,4 milhões de brasileiros na pobreza entre 2014 e 2017. Com isso, houve um salto de 20,5% — de 36,5 milhões para quase 44 milhões — no número de pessoas vivendo com menos de US$ 5,5, ou seja, R$ 21,20, por dia.
O Banco Mundial também analisou a situação dos que são considerados extremamente pobres, precisando sobreviver com menos de US$ 1,90 (R$ 7,30) por dia, aproximadamente R$ 220 mensais a preços de hoje.
A fatia dos miseráveis entre o total de pobres do país saltou de 15,4% para 23% no período analisado.
De acordo com a Fundação Abrinq, que fez cálculos a partir de dados do IBGE, 9 milhões de brasileiros entre zero e 14 anos do Brasil vivem em situação de extrema pobreza.
O Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional do Ministério da Saúde identificou, no ano retrasado, 207 mil crianças menores de cinco anos com desnutrição grave no Brasil.
Nas redes sociais, um dos filhos do presidente, o vereador do Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro (PSC), criticou o encontro do pai com os correspondentes, questionando por que o presidente "insiste no tal café da manhã semanal com 'jornalistas'", uma vez que "tudo que diz é tirado do contexto para prejudicá-lo".