
Eleito com um plano de governo que prevê privatizações e mudanças na estrutura dos gastos públicos, o governador Eduardo Leite ultrapassou as divisas do Rio Grande do Sul e se tornou protagonista na defesa da reforma da Previdência. Nas últimas semanas, liderou, ao lado do governador de São Paulo, João Doria, a mobilização que tenta recolocar Estados e municípios no projeto.
Tamanha ênfase reformista fez de Leite uma das revelações da política nacional. Ao apresentar discurso moderado em meio ao ambiente beligerante no Congresso, mas sem abrir mão de preceitos liberais na economia e nos costumes, Leite despertou a atenção da imprensa do centro do país. Desde o início do ano, já viajou 19 vezes para fora do Estado e concedeu em torno de 150 entrevistas a veículos de comunicação de abrangência nacional, sendo pelo menos 15 mais longas e exclusivas, conforme monitoramento do Palácio Piratini.
— Esse protagonismo do governador está muito ligado à dificuldade que o Estado enfrenta no sistema previdenciário. A decisão de retirar Estados e municípios (da reforma) complica a situação dele, porque provavelmente terá de enviar uma proposta para a Assembleia e debater com os deputados — avalia Carlos Borenstein, analista político da Arko Advice.
Também conta para a projeção de Leite o êxito na agilização do processo de privatização de CEEE, Sulgás e CRM. O ex-governador José Ivo Sartori tentou avançar essa agenda, mas não conseguiu retirar da Constituição a necessidade de plebiscito para venda das estatais, tampouco autorização para realizar consulta popular, tema estigmatizado desde o governo Antônio Britto (1995-1998).
Época de renovação nos quadros do PSDB
Aos 34 anos, Leite é o mais jovem governador do país. Sua chegada ao poder coincide com a renovação nos quadros do PSDB, seu primeiro e único partido. Na recente eleição para o diretório nacional, líderes antigos e desgastados por denúncias como Geraldo Alckmin e Aécio Neves perderam espaço para o grupo de Doria, que emplacou na presidência o ex-deputado Bruno Araújo.
— Há uma transição geracional no partido. Com a derrota dos velhos caciques, Doria e Leite passam a despontar como nomes à disputa presidencial. Claro que 2022 está longe, mas dependendo da conjuntura e, se obter sucesso na projeção que está tendo, Leite pode aparecer como pré-candidato ao Planalto — projeta Borenstein.
Quem priva da intimidade de Leite sustenta que ele não pensa nas próximas eleições. Trabalhando em torno de 12 horas por dia, estaria focado na aprovação dos projetos de privatização e na conclusão de um pacote de medidas que prevê cobrança de alíquota suplementar na previdência dos servidores e cortes nos incentivos fiscais a empresas. Em recente encontro com sindicalistas da área de segurança, ele ironizou as projeções sobre ser uma das promessas da política nacional:
— O pessoal diz pra mim: “Eduardo, tens muito futuro na tua carreira política”. É, se não fosse governar o Rio Grande do Sul, poderia até acreditar muito nisso.